Auxílios estudantis são fraudados

Débora (nome fictício) pretende terminar a graduação este ano. A um semestre do fim do curso, procurou a Coseas para pedir um auxílio-moradia. “Não pedi antes porque tinha medo da Coseas”, afirma, referindo-se ao processo de seleção e entrevistas com assistentes sociais para a obtenção do auxílio. Em junho, ela conseguiu uma vaga no Crusp. O medo de Débora impediu que ela arranjasse residência quando precisou deixar o local onde morava, na casa de um amigo, e não teve onde morar.

Medo não enfrentado por Renato (nome fictício). Estudante de Letras, ele não se considera um aluno exemplar. “Não consigo conciliar emprego e faculdade”, justifica. Renato trabalha com carteira assinada, mas sua profissão permite serviços autônomos. Apesar de dificultar o desempenho acadêmico, o emprego não impediu que ele recorresse à Coseas e conseguisse o auxílio-moradia de R$ 200 e a bolsa-alimentação.

Assim como Débora, Renato tentou o auxílio no meio do ano. Recebia cerca de R$ 850 de salário, mais o que ganhava como autônomo e foi um dos alunos que solicitou a inscrição fora do prazo estipulado. Além de se inscrever após a data limite, Renato não foi entrevistado pela assistente social, mas teve de levar comprovantes de gastos e de renda para análise. “Dei uma burladinha. Comprovei [com documentos de trabalhos autônomos] uma renda menor que a verdadeira e dei comprovantes de gastos reais”, explica.

Ele mora em uma república ao lado da USP desde o início deste ano. Isso não impediu a perda de seu passe escolar, de responsabilidade da Coseas. “Esse eu não burlei. Eles têm meu endereço no sistema”.

No documento que atesta o auxílio-moradia, a Coseas afirma que “o aluno que (…) omitir dados sócioeconômicos será desclassificado do processo seletivo e perderá o direito ao auxílio-moradia”. Entretanto, até o momento, Renato não foi chamado para prestar esclarecimentos, tampouco perdeu seus benefícios. Segundo Rosa Godoy, coordenadora da Coseas, é impossível fiscalizar se os auxílios são utilizados corretamente. “A fiscalização é feita por amostragem e quando há evidências ou denúncias de que a situação sócio-econômica do aluno não é aquela declarada”, afirma.

Desde a aquisição do auxílio, Renato mudou de emprego. Atualmente, recebe um salário maior que o anterior, mas ainda não pagou as dívidas adquiridas nos dois meses em que ficou desempregado. Segundo ele, essa é a razão para ainda não ter cancelado o benefício. “Acho que até janeiro estabilizo minhas contas. Então, não preciso mais do dinheiro. Vou ver se a minha moral fala mais alto para dizer que não preciso mais do auxílio ou espero cortarem”.