Caça aos leitores

São 10 200 exemplares. São oito páginas. Quatro cores. Duas edições por mês. Não sai barato. Uma boa reportagem para este Jornal do Campus seria essa: quanto sai para a universidade a manutenção disto aqui. Vale a pena? O público aprecia? Aprova? Eu gostaria de ler essa reportagem.

Pelo que apurei junto aos alunos que me convidaram, tão gentilmente, para a função temporária de ombudsman – função que aceitei com imensa honra, grande motivação e muito orgulho de passar a freqüentar estas páginas –, sabe-se muito pouco do leitor. Ele quase não escreve para a redação. Fico na dúvida se algum dos integrantes da redação tem por hábito conversar com leitores regulares. Aliás, será que existem leitores fiéis, assíduos?

Quero reiterar: tenho orgulho de pertencer, ainda que por poucas semanas, à equipe do Jornal do Campus. A ECA só tem a se orgulhar deste jornal. Mas problemas existem, e meu papel é apontá-los. O primeiro problema é esse: o leitor disto aqui é um enigma. A leitura das matérias sugere que cada repórter escreve para um tipo de leitor diferente. Por isso a minha avaliação começa pelo básico. Falta ao Jornal do Campus um plano editorial claro. Entre outras coisas, o plano estabeleceria a grade de assuntos a ser cobertos todas as edições, o padrão de linguagem – e, evidentemente, uma definição do leitor. Para esse leitor o jornal precisa ser apenas essencial. Ou não tem jogo. Se não há como fazer diferença substancial na vida do leitor, é discutível se vale a pena gastar dinheiro público nesta experiência. Jornalismo a gente aprende em contato direto com o leitor – ou, excepcionalmente, em contato com grandes profissionais, que só são grandes porque têm o leitor na cabeça. Sugiro, portanto, que a redação formule e adote um plano editorial e passe a conversar regularmente com o leitor. Para começar.

Eugênio Bucci é professor da ECA e autor de “Em Brasília, 19 horas” (Record, 2008) e “Sobre Ética e Imprensa” (Companhia das Letras, 2000).