Construindo a integração

Vista do Salão Caramelo da FAU, projetado para estimular a convivência
Vista do Salão Caramelo da FAU, projetado para estimular a convivência (foto: Renato Fankuns)
Uma composição arquitetônica apresenta não só funções artística e plástica, mas também social. Seguindo essa idéia, o plano diretor do projeto da Cidade Universitária pretendia trazer para o espaço da USP os principais arquitetos de São Paulo, o que chegou a ser realizado com os primeiros prédios.

Hélio Duarte foi um dos muitos arquitetos que desempenhou a função que hoje é a do prefeito do campus. Ele idealizou um “corredor das humanas”, constituído em sequeência dos prédio da História e Geografia, Letras e Filosofia, Ciências Sociais, Psicologia, Arquitetura e terminando no de Matemática. Todos esses prédios teriam um vazio central, o que permitiria que uma rua de pedestres cruzasse todas essas faculdades. Carlos Faggin, professor de história da arquitetura na FAU, elogia a idéia, que acabou sendo implantada apenas parcialmente.

Ele lembra que atualmente existe uma lei que impede os funcionários públicos – e, logo, os professores – de prestar serviços à USP, inviabilizando alguns projetos. “É um conhecimento que a universidade gera, mas não aproveita dentro do próprio espaço”, explica. Mesmo assim, por meio de fundações ou tramites burocráticos, alguns projetos no campus contam com participação de docentes, como é o caso da ECA. O professor da FAU Marcos Acayaba é o coordenador do projeto de reforma da escola, que visa, entre outras mudanças, uma maior integração dos prédios. O projeto inclui a construção de uma estrutura de aço e vidro que cobriria os prédios e áreas intersticiais, o que chama de “estrutura integradora”. Além disso, no lugar do prédio da vivência será construído um edifício que englobará entidades como o Centro Acadêmico e a Atlética.

Alguns espaços de integração da USP possuem grande valor histórico, como o Salão Caramelo da FAU, durante o combate à ditadura. “Se o corredor das humanas tivesse sido de fato implantado haveria uma passarela com essa função e não só um salão”, diz. Segundo ele, como o projeto não foi finalizado e o prédio da História e Geografia fica fisicamente distante da FAU, esse debate se concentrou ora em um ora no outro.

A maioria das faculdades existentes antes da criação da Cidade Universitária foi transferida em apenas um ano, depois do AI-5, exatamente para aquartelar os estudantes. “Nós reclamávamos por considerar que fomos transferidos para uma espécie de vila militar, um lugar fechado, longe da cidade e dos acontecimentos sociais e políticos”, conta.

Mesmo com o fim da ditadura, o Salão Caramelo continua sendo um espaço de vivência fundamental dentro da faculdade, onde são realizadas exposições, palestras e até festas. Segundo Faggin, “esse é um espaço da comunidade universitária e dos arquitetos de São Paulo, talvez o mais importante”. Ele é o centro do edifício e exerce essa função de abrigar pessoas e gerar o uso dos outros espaços. “Tudo gira em torno dele, quer esteja sendo usado naquele momento ou não. Isso mostra a importância do vazio em um projeto de arquitetura”, finaliza.