Contra crimes, USP usará câmeras

Equipamentos já foram instalados em 85 pontos da Cidade Universitária; monitoramento divide opiniões dos estudantes do campus

Cristiane Toledo, aluna de mestrado do curso de Letras, foi encontrar uma amiga no Instituto de Geociências, na Cidade Universitária. Estacionou o carro em frente à unidade, entrou no prédio, procurou pela amiga, mas não a encontrou. A estudante ia ligar para ela, quando percebeu que esquecera o celular no veículo. Ao se aproximar do carro, notou que dois rapazes “com pinta de estudante” davam partida no automóvel. Cristiane estava sendo furtada. Eram 13h de uma quarta-feira.

Para reduzir os casos como o de Cristiane, 85 câmeras de monitoramento foram instaladas na Cidade Universitária, em áreas de grande circulação, como avenidas e rotatórias. “Fizemos a maior cobertura possível dentro do limite orçamentário”, diz Adilson Carvalho, prefeito do campus de São Paulo. O gasto total para concretizar o projeto foi de R$ 2,5 milhões.

O monitoramento ainda não está sendo feito, pois as câmeras estão em fase de ajustes. Mas o prefeito garante que até o final do mês a vigilância entrará em vigor. Com a utilização da tecnologia wireless, o processo ocorrerá da seguinte forma: as imagens captadas serão mandadas a uma antena, que vai transferi-las por fibra óptica à Central de Monitoramento da Guarda Universitária. Esta acionará a Polícia, caso alguma ocorrência seja detectada.

As câmeras foram instaladas apenas nas áreas externas aos departamentos. Muitas unidades já possuem sistema de moni-toramento, mas instalado pelos próprios diretores. Apesar disso, no futuro, as imagens das câmeras internas também poderão chegar à Guarda Universitária. “A idéia é que o monitoramento possa estar integrado”, ressalta Carvalho.

Um aluno de História que se identificou como Gustavo é contra o uso do equipamento. Ele refuta o argumento de que a instalação de câmeras é pela segurança da Universidade. “Na verdade, isso se reverte em uma forma de vigiar o movimento estudantil”, diz o aluno. O prefeito nega, mas relativiza: “Elas vão ser usada, claro, para identificação quando houver excessos”.

Para Brisa Araújo, também estudante da História, a implantação de câmeras é válida “em alguns lugares”. “A Guarda Universitária não dá conta de tudo. Melhor ter [câmeras] em lugares com menos gente do que a PM vir para cá”, afirma. O prefeito, por sua vez, se diz favorável à presença da Polícia no campus. “Nossa guarda não tem poder de polícia. É aí que surgem os problemas”. Adilson Carvalho ainda afirma que a USP não pode contar apenas com o atendimento do 190.

Câmera de monitoramento instalada na entrada principal da Cidade Universitária
Câmera de monitoramento instalada na entrada principal da Cidade Universitária (foto: Letícia Mori)
(Falta de) segurança

Os problemas de segurança no campus vão além de furtos de carros (foram 80, desde o início desse ano). Segundo Ronaldo Elias Pena , diretor de Operações de Segurança da USP, o maior problema de violência na Universidade é o de roubo à mão armada, praticado principalmente por menores. Acidentes de trânsito e furtos nas unidades são outras ocorrências apontadas por Ronaldo Pena.

Segundo ele, o maior problema que a Guarda Universitária encontra em sua atuação é o “limite legal” que enfrenta. A mesma questão foi apontada pelo prefeito do campus. “A Guarda não pode fazer abordagens em suspeitos, não pode prender, nem fazer averiguações, não pode punir, não pode enfrentar”. A vigilância nos 4,5 milhões de metros quadrados do campus é feita por cerca de 60 guardas, segundo dados do CPC (Centro de Planejamento e Controle da USP).

Para diminuir o número de delitos no campus, além do uso das câmeras, o prefeito anunciou a criação de “faixas de segurança”. A prefeitura pretende criar nas áreas consideradas mais perigosas uma espécie de corredor com “boa iluminação e bom monitora-mento”. “Mas as pessoas têm que andar ali”, diz.

Para Ronaldo, os locais mais perigosos do campus são aqueles de “passagem a pé”, principalmente durante a noite. O portão de pedestres da Vila Indiana, da Fepasa e do HU, além da Estrada do Mercadinho, são destacados pelo diretor como locais inseguros. Para ele, os pedestres que caminharem em espaços mal iluminados entre as unidades também devem ficar atentos.

Furtos de automóveis registrados no último semestre na Cidade Universitária