Crítica culinária: vale quanto pesa

por Josimar Melo

Num dos meus últimos almoços no bandejão da USP a comida, a “limpeza” e o preço – que havia subido – estavam tão ruins que achamos de bom-tom ocupá-lo. Tomamos o lugar dos funcionários e uma comissão de estudantes passou a fazer e a servir a comida até a Reitoria concordar em limpar a cozinha, melhorar o rango e cancelar o aumento. Era final dos anos 70, eu estudava na FAU e, creio, dirigia o DCE, eleito pela Liberdade e Luta.

Agora vi situação diferente. A bandeja retorcida talvez seja do meu tempo. Mas a comida melhorou, como também constatou a chef de cozinha [que trabalha como consultora e professora de culinária no Japão] Mari Hirata, ex-aluna da ECA. A carne assada, com pouco tempero, estava macia, provavelmente feita em autoclaves que amaciam qualquer coisa (melhor do que os bifes do meu tempo, fibrosos e fritos em temperatura e óleo inadequados). Arroz e feijão sem queixas; abóbora refogada (mais alho e um bom azeite dariam um belo realce, mas ok); e alface pobre em temperos (só óleo de soja, nem uma gota de azeite de oliva). A R$ 1,90, uma refeição decente. Para visitantes, R$ 7,80 é caro – muito restaurante de quilo, por este preço, dá mais variedade e sabor.

O crítico Josimar Melo e a chef Mari Hirata no bandejão (foto: Paula Sacchetta)

Josimar Melo é jornalista, crítico de gastronomia da Folha de S.Paulo e autor do “Guia Josimar Melo” de restaurantes