Curtindo a USP adoidado

Já está quase chegando a hora. Passa-se mais um dia cansativo de estudos. Agora monta o bar. Liga o som. Afina os instrumentos musicais. Vai começar mais uma happy hour. Pode ser terça-feira, quarta-feira… Não faz diferença. Quase todos os dias acabam em festa em algum lugar do campus Butantã. Mas não vá pensando que os uspianos só pensam em beber e se divertir. As comemorações semanais são mais profundas do que parecem, revelando-se um importante espaço de efervescência cultural da universidade.

Digamos que seja terça-feira. A animação estará escondida na Biologia, onde um grupo sempre aparece para tocar chorinho. São os mesmos desde 2005, mas às vezes alguém de outra unidade chega com seu instrumento e se junta à turma. Acontece, assim, um rico intercâmbio cultural. “Os alunos têm uma formação muito estreita às vezes”, conta a professora da Faculdade de Educação da USP Mônica Teixeira do Amaral. Conhecer pessoas de outras áreas, portanto, amplia o universo de conhecimento deles. “A universidade deveria propiciar mais espaços nesse sentido”, diz Mônica.

Nas festas uspianas, não raras vezes você esbarra com os tipos mais bizarros de pessoas. Nem sempre, porém, o desejado intercâmbio cultural acontece. Em meio a tanta diversidade, a maioria das pessoas acaba por se isolar nos seus já firmados círculos sociais em grandes happy hours como a Quinta & Breja da ECA. Não que isso seja necessariamente negativo, já que os laços de amizade são estreitados.

Essa aproximação acontece inclusive durante a organização dos happy hours feita pelos próprios estudantes. Tudo tem de estar perfeito: os uspianos pensam de temas musicais a limpeza e segurança.

Afinal, as confraternizações cresceram, se profissionalizaram, movimentam muito dinheiro e algumas até se tornaram famosas dentro do campus. Mário Souza, que freqüentou desde o começo os happy hours da FAU – uns dos mais antigos da USP –, conta que antes tudo acontecia de forma espontânea. “A gente levava os amplificadores e começava a fazer um som”.

Os happy hours, contudo, não são bem vistos por todos, seja pelo som alto ou pelo uso que fazem do espaço universitário. Mas seus organizadores mostram o contrário, transformando o que aparenta ser apenas diversão em uma rica produção de conhecimento e cultura.

FFLCH oferece várias atividades culturais às quartas
FFLCH oferece várias atividades culturais às quartas (foto: Ricky Hiraoka)

A FFLCH, desde junho, mistura debates e música ao vivo nas Quartas Culturais. A proposta, que ainda está amadurecendo, é promover discussões político-filosóficas. Depois, os estudantes têm espaço para produzir cartazes e extravazar suas idéias. Enquanto isso, começa o soar dos pandeiros e violões das bandas universitárias, que comandam a descontração da festa.

Como não existe festa sem música, é comum novos talentos musicais surgirem na cena uspiana. O estudante de veterinária Rudy Rizzo aprendeu a discotecar nas festas de seu instituto e toca hoje em diversos bares da Vila Madalena, fazendo da sua “diversão” também um meio de vida.

20 anos de história

Simão, Mário e Marcos foram das turmas mais agitadas que já passaram pelas rampas da FAU. Elas eram engajadas e se uniram após a greve da USP de 1988. Ao mesmo tempo, eram ligadas ao esporte e cultura. Os estudantes do final da década de 1980 reavivaram o grêmio, viraram noites fazendo trabalhos na faculdade e começaram a levar seus instrumentos para tirarem um som. Assim nascia o happy hour da FAU, que rola toda sexta-feira até hoje. É o começo também de uma história musical entre os três garotos acima, que resultaria em uma banda de samba-rock, o Farufyno.

Cada um tinha a sua banda, de estilos bem diferentes: samba-rock, instrumental e jazz. Quando se juntaram (e aqui aparece Kuba, o amigo japonês que cantava samba), o som não poderia ser mais eclético. Tocavam de Rolling Stones a Adoniran Barbosa.

Os happy hours também eram mais diversificados: alunos tocavam com professores e funcionários. Vinham pessoas de todas as partes do campus e de fora dele também. Kuba, por exemplo, nunca estudou na USP, mas freqüentou a FAU até mais que alguns de seus estudantes. Os músicos se profissionalizaram, assim como as festinhas da FAU. Eles continuam tocando semanalmente, mas agora fora da universidade.