Júpiter confunde alunos da USP

Mudanças recentes buscam facilitar matrícula, mas ainda não são bem compreendidas pelos estudantes da graduação

A vida acadêmica dos alunos de graduação da USP está nas mãos de um deus: Júpiter. Na mitologia, seu poder de decisão faz com que seja visto por muitos como um ser injusto e vingativo. Na universidade, tais características também recaem sobre o sistema de matrícula que leva o mesmo nome e ajudam a compor o mito uspiano.

Implantado em 1999 no IF, IQ, IB, e nos cursos de Computação (IME) e de Jornalismo (ECA), o Júpiter Web surgiu com o objetivo de facilitar a matrícula e o registro de notas pelos professores. No entanto, quase dez anos após sua implantação, a competição por vagas de matérias optativas em algumas unidades é motivo de reclamação entre os usuários do sistema.
Caça a optativas

Em média, 49 mil alunos utilizam o serviço de matrícula do Júpiter Web. Já se tornou comum entre os estudantes a valorização da quantidade de optativas no processo de inscrição. Essa prática começa no 1º ano de faculdade. Nara Lya Cabral, que está no 2º semestre de Jornalismo, conta que pretendia cursar apenas duas optativas, mas se inscreveu em oito porque achou que tivesse mais chances de conseguir a que desejava. “Pensei que assim seria mais fácil”, diz Nara, que não conseguiu nenhuma delas.

Segundo a resolução aprovada pelo Conselho de Graduação (CoG), tal hábito dos uspianos não funciona porque o critério de seleção utilizado pelo sistema leva em conta o Aproveitamento Médio (AM) de cada aluno. Se este for baixo, o estudante não conseguirá a disciplina que deseja mesmo que tenha se inscrito em várias. Um dos componentes do AM leva em conta o número de créditos cumpridos. Assim, calouros, como Nara, têm menos chances de conseguir optativas.

Sérgio Orsini, gerente administrador do Júpiter Web, diz que o hábito de tentar muitas disciplinas para conseguir algumas é ruim, pois pode prejudicar quem realmente está interessado numa determinada matéria. Ele explica que “o aluno pode pegar Física Quântica por pegar. Eventualmente, não cursará porque não tem interesse e irá tirar a vaga de outra pessoa”.
Remanejamento

Além da conscientização, uma resolução a curto prazo para este problema é o remanejamento mais eficiente das vagas de optativas feito pelas secretarias das unidades, que o Júpiter Web não faz automaticamente. Luanah Maria dos Santos, estudante do 5º ano de História, cobra melhorias. “Depois reclamam que o custo do aluno é um absurdo”, diz.

Apesar do CoG aprovar critérios de seleção de optativas para tornar o processo mais justo e diminuir a ociosidade, em algumas disciplinas eles ainda não podem ser aplicados. É o caso de certas obrigatórias do curso de Letras da FFLCH, nas quais a ordem de inscrição é determinante para o preenchimento das vagas. As filas que se formavam em frente às secretarias dos departamentos, quando o processo de matrícula se dava apenas por papéis estão, hoje, virtualizadas.

O sistema fica congestionado e por isso informa aos usuários que os dois primeiros dias são reservados aos cursos de licenciatura. Os demais alunos que tentam se matricular nesse período, descobrem que também podem fazê-lo. Para resolver este problema, uma opção é a matrícula interativa, já existente em algumas unidades.
Burocracia

Outra reclamação dos alunos é a desatualização dos programas encontrados no Júpiter Web. Gabriela Alves do Carmo, estudante do 2º ano de História, comenta que isso faz com que “a aula na prática seja uma ‘doce’ surpresa”. O gerente do Júpiter, Sérgio Orsini, diz que a atualização do programa é responsabilidade de cada docente. No entanto, o processo não se resume a simples inserção das informações no sistema. Cada mudança feita pelo professor deve passar pela aprovação de uma comissão e, aí sim, entrar na rotina de atualizações do Júpiter – processo que pode levar um ano.

Nos sites de alguns departamentos, como o de Letras, os alunos podem encontrar os programas atualizados mais facilmente que no Júpiter. Mas quem precisa se pautar apenas pelas informações disponíveis no sistema pode se iludir. E, agora, com o adiantamento do período de retificação, o aluno não pode assistir à aula e cancelá-la em seguida, caso a matéria não lhe interesse.

O presidente da Comissão de Graduação do Instituo de Química, Mauro Bertotti, diz que a medida foi tomada para resolver o problema de organização em disciplinas laboratoriais. Os períodos de recuperação também foram adiantados em uma semana. Dessa maneira, o aluno que for aprovado depois (até a penúltima semana de julho) pode retificar sua matrícula antes do início das aulas. Segundo Bertotti, “assim, no começo do semestre letivo, a lista de alunos matriculados já está definida e os alunos não são prejudicados, pois têm um tempo adequado para estudar antes da recuperação”.