Lentidão prejudica pacientes no Pronto Socorro do HU

“Tem hora pra atender?”, pergunta a moça que chegou de muleta com o pé direito machucado. “É, demora um pouco”, responde a atendente do PS (Pronto Socorro) do HU, onde trabalha há 25 anos. Treinada para essas situações, ela dá uma resposta vazia de que o médico aparecerá quando estiver livre. Só resta esperar. A moça se afasta contrariada. Ao lado, o assistente de laboratório comenta: “tem gente que quer exclusividade”.

As longas filas de espera são rotina no HU. O ouvidor Sérgio de Souza afirma que o setor do Hospital com o maior número de reclamações é a urgência. Ele aponta que a lentidão no atendimento é a principal causa de insatisfação dos pacientes. De acordo com a ouvidoria, são atendidas entre mil e 1.200 pessoas por dia no PS. Souza diz que a demora se dá porque não há médicos suficientes para prestar assistência imediata ao grande número de pessoas. Ele explica que houve uma queda da quantidade de profissionais que afetou a qualidade do pronto atendimento. Nilson Rodrigues da Silva trouxe o seu filho depois de um acidente de moto. Com o joelho machucado e a ficha trocada, o paciente foi parar na ala pulmonar. “Em 2003 fiz uma cirurgia no intestino e fui bem tratado. O atendimento da USP está caindo muito”. Para Sérgio, uma vez atendidas, as pessoas costumam elogiar o tratamento.

O HU, além de atender o público da USP e da comunidade do Butantã, recebe pacientes com casos de emergência de todas as regiões da cidade. Segundo o superintendente Paulo Lotufo, a responsabilidade pela emergência é da Prefeitura. “Nessa e nas gestões anteriores, a única tarefa dos serviços municipais é trazer suas ambulâncias com pacientes graves”. De acordo com ele, a fila do ambulatório deveria ser de responsabilidade do sistema de saúde, e não do HU, assim como atendimentos de trauma precisariam ser encaminhados ao Hospital das Clínicas, que conta com equipe completa para casos como esse.

Souza explica que muitos atendimentos do PS são desnecessários. Pessoas com casos antigos de doença deveriam agendar consultas, em vez de recorrerem ao serviço de urgência. O problema é que, em virtude da alta procura, o agendamento, que é feito de mês em mês, costuma se esgotar em poucas horas.

Pronto Socorro do HU realiza mais de mil atendimentos por dia (foto: Divulgação)
Pronto Socorro do HU realiza mais de mil atendimentos por dia (foto: Divulgação)
“Acho que esqueceram de nós…”

Uma senhora idosa, acompanhada pelo marido, chega ao PS do HU às 6h30. Na noite anterior, ela teve um desconforto no pulmão. Os dois saíram cedo de casa para poder garantir atendimento. O relógio já marcava 12h30 e o casal ainda permanecia na fila de espera. Cansada e sem paciência, a senhora suspira, “ai, meu Senhor da Glória! Acho que esqueceram de nós…”. Reclama que já passaram umas 50 pessoas na sua frente.

A demora costuma elevar os ânimos de quem tem que esperar. Sérgio de Souza explica que alguns pacientes não entendem quando alguém em situação mais grave passa na sua frente. Ele afirma que a presença de policiais militares, da guarda universitária e de funcionários da zeladoria nos corredores do hospital se faz necessária para garantir a segurança dos profissionais. Segundo Maridete de Sousa, há 15 anos no hospital, e hoje auxiliar da urgência, muitos pacientes se exaltam e ficam irritados. “Com a segurança reforçada a situação melhorou”.

Verba é suficiente

O superintendente diz que a verba para manutenção do hospital é suficiente. Já o dinheiro para investimentos será sempre necessário. “Sempre desejamos melhorar e equipá-lo com o que há de melhor”. Ele lista equipamentos novos adquiridos pelo hospital para os serviços de endoscopia, radiologia, tomografia, ultrassonografia e radiologia digital. De acordo com ele, não há planos de expansão do número de leitos – em virtude do custo e dos riscos de infecção hospitalar – e sim melhorias nas condições das enfermarias.