Para alunos, Inclusp é insuficiente

Neste ano, o Inclusp (Programa de Inclusão Social da USP) traz novidades. Entra em vigor o Programa de Avaliação Seriada da USP (Pasusp), que aplicará prova, dia 19 de outubro, a estudantes do terceiro ano do ensino médio regular do Estado de São Paulo inscritos no programa. De acordo com a nota obtida nesse exame, o estudante pode conseguir até 3% de bônus nas provas da Fuvest, que, somado aos outros benefícios (bônus universal e bônus pela nota obtida no Enem), poderá aumentar a nota nas provas em até 12%.

Mesmo assim, muitos alunos do ensino público ainda consideram a USP uma instituição “inalcançável”. Márcia de Oliveira, aluna do curso de letras na FFLCH, divulgou o Inclusp em seu ex-colégio pelo programa “Embaixadores da USP”. Ela constatou que o Inclusp não atraiu os estudantes. “A maioria nem sabia que a USP é gratuita. Os que sabiam, achavam que não tinham a mínima chance de passar no vestibular”, diz. “Eles estavam mais interessados no Prouni”.

Aline da Silva, aluna do 3º ano da Escola Estadual Fernão Dias, de Pinheiros, na capital, conta que maioria dos colegas não se interessa pelo programa porque não acredita na possibilidade de conseguir uma vaga, mesmo com o bônus.

A colega de Aline, Carla Santana, acredita que vai precisar pagar um cursinho para ter alguma chance frente à concorrência. Ela considera os bônus uma boa ajuda, mas sente falta de mais incentivos, inclusive da implementação de cotas.

“Eu sou a favor de cotas, mas o que precisa mesmo é de investimento na educação. De que adiantam cotas pra entrar na faculdade se o aluno não teve uma boa educação a vida toda?”.

As cotas para alunos de escolas públicas seriam uma solução melhor que o Inclusp, na opinião de Mateus Prado, presidente do Instituto Henfil (que oferece cursinhos comunitários). “O Inclusp é importante, mas é tímido. O bônus não faz muita diferença na pontuação e cursos como medicina vão continuar inatingíveis”, afirma.

Entre os estudantes de escolas particulares, as opiniões sobre o Inclusp se dividem. Alexandre Guimarães, que sempre estudou em colégio pago e agora freqüenta o curso preparatório para vestibular Objetivo, em São Paulo, considera o programa uma “medida de maquiagem”. Para ele, a inclusão só aconteceria realmente com a reestruturação do ensino público, e qualquer medida de curto prazo é injusta. “Posso perder a vaga para alguém menos qualificado, só porque estudou em escola pública. Meus pais trabalharam a vida inteira para me dar um ensino de qualidade. Esse dinheiro não caiu do céu”, afirma.

Já o estudante Marcelo Rico, que, assim como Guimarães, sempre frequentou colégio particular, defende o programa de inclusão: “Pelo menos a curto e médio prazos, é uma forma de compensar quem não teve acesso à educação de qualidade. É só dar uma olhada rápida em uma escola pública e uma particular, e a diferença é clara logo na entrada do colégio”.