Pró-reitoria cria bolsa e alunos pedem explicação

Pró-reitor de Cultura e Extensão é alvo de críticas, se irrita, pede desculpas e admite falhas na nova bolsa

Três notas de dois reais e três moedas totalizando vinte e cinco centavos, retiradas de sua carteira e postas, uma a uma, na frente do pró-reitor de Cultura e Extensão, renderam a Danilo, aluno de Artes Plásticas, a maior ovação da platéia que assistia à Audiência Pública sobre o Programa Aprender com Cultura e Extensão. Organizada pelo DCE Livre, devido às reclamações a respeito da substituição do Bolsa-Trabalho pelo novo programa, contou com a presença do pró-reitor, Ruy Altafim, do vice-reitor e presidente da Comissão de Política de Permanência e Formação Estudantil, Franco Lajolo, da presidente da Coseas, Rosa Godoy, e de dezenas de estudantes.

Danilo é bolsista do MAC e recebe 300 reais do Aprender com Cultura e Extensão. Antes da implantação dessa bolsa, o projeto no qual ele trabalha era vinculado ao Bolsa-Trabalho que oferecia um salário de 415 reais para as mesmas funções. As diferenças estão na redução pela metade do número de bolsistas no museu e duas horas semanais a mais na carga horária. Os 6,25 reais, pagos pela hora trabalhada no Aprender, foram colocados sobre a mesa onde estavam os responsáveis pela implementação da nova bolsa. Danilo explica que, por ser um artista visual, crê que a imagem grava mais do que a palavra e alegou não querer ofender a mesa. Sentindo-se insultado pelo gesto, o pró-reitor se levantou dizendo “pensei que isto [a audiência] fosse uma situação séria” e ameaçou se retirar. Lajolo acalmou Altafim.

Após outros depoimentos que apontavam problemas enfrentados pelos alunos durante o processo de substituição das bolsas e para se manterem na faculdade, o pró-reitor se desculpou por sua atitude. Altafim explicou que muitos projetos do Aprender são idênticos aos do Bolsa-Trabalho porque a USP realiza muita extensão universitária, porém, com a antiga bolsa, essa extensão não valia nada para o aluno que a realizava. Segundo Rosa Godoy, esse novo programa permite que os bolsistas recebam créditos pelo trabalho realizado nos projetos.

O Bolsa-Trabalho, segundo Lajolo, foi substituído pelo Aprender devido ao fim dos recursos provenientes das heranças vacantes, que financiavam o projeto, e como uma resposta às críticas que o programa sofria, como a que o acusava de ser uma distorção do conceito de bolsa e uma forma de terceirização do trabalho na universidade.

Quanto à diminuição de bolsas, “a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão desconhecia os projetos do Bolsa-Trabalho, porque para nós o Aprender era um projeto totalmente novo. Nós não sabíamos números, não tínhamos idéia se as pessoas iriam ou não se inscrever”, disse Altafim. Mas, em virtude da grande procura, 2864 inscritos, a Comissão de Política de Permanência e Formação Estudantil, idealizadora do projeto, disponibilizou mais 200 bolsas para serem distribuídas. Lajolo anunciou a alteração da carga horária de 12 para 10 horas semanais. Os bolsistas presentes reclamaram que esse dado não chegou aos coordenadores dos projetos.

Segundo Lajolo, o salário de 300 reais é para que todas as bolsas oferecidas pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão tenham o mesmo valor. Questionado se a nova bolsa sofrerá reajustes anuais, o que acontecia com a antiga bolsa, fixada no salário mínimo, o vice-reitor disse que será feita uma avaliação socioeconômica dos alunos e a partir disso serão sugeridas mudanças. Rosa Godoy concorda com as críticas quanto ao baixo valor da bolsa e disse que tudo que a Coseas puder fazer para seu aumento será feito.

Outro ponto que causou polêmica foi a divulgação do Aprender. Os alunos presentes reclamaram que durante essa divulgação não foi informado que o novo programa substituiria o Bolsa-Trabalho. Crítica não acatada por Altafim, que alegou ampla veiculação do programa. No entanto, a diretora do DCE e mediadora da mesa, Joana Salem, disse que isso fez com que muitos professores pensassem que o Bolsa-Trabalho continuaria e por isso solicitaram um número menor de projetos ou então não se inscreveram na nova bolsa. Rosa Godoy disse ter enviado e-mails aos coordenadores avisando do fim do Bolsa-Trabalho. Contudo, ex-bolsistas confirmaram a informação da diretora do DCE.

Ao fim da audiência, o vice-reitor disse que se sensibilizou com os depoimentos dos alunos e que passou a entender dificuldades que antes não entendia. Lajolo e o pró-reitor admitiram que ocorreram algumas falhas durante o processo e que “se elas chegarem [até nós] é possível fazer correções; se são questões operacionais elas serão corrigidas”, disse Lajolo.

A diretora do DCE entregou uma lista de reivindicações acerca da nova bolsa e do programa de permanência estudantil. O documento feito pelo DCE e pelo Conselho de Centros Acadêmicos pede, dentre outros pontos, o aumento do número de bolsas e a vinculação do valor ao salário mínimo; a efetivação do caráter de Cultura e Extensão e não “um novo nome para o Bolsa-Trabalho”; que os critérios de seleção para a bolsa sejam apenas socioeconômicos. Gestão democrática da permanência estudantil e um percentual fixo do orçamento destinado a esse fim foram outras propostas.

Lajolo se comprometeu a levar discussão para a comissão responsável.