Trânsito na USP é mal conduzido

O transporte na USP é caótico. A locomoção tem seus diversos aspectos e afeta de diversas formas a vida dos usuários

Gabriela Aires ouve música. Renata Machado planeja o dia seguinte. Natália Pinheiro aproveita para ler. Kayen Tso não resiste e quando é possível, tira aquela soneca. Cada um faz o que pode durante o tempo que fica preso nos abomináveis congestionamentos de São Paulo. Nem dentro da Cidade Universitária, o trânsito dá uma trégua para os alunos.

Estresse é apenas um dos problemas causados pelo excesso de carros na USP: P1 engarrafado já é rotina para uspiano (foto: Camila de Lira)

É uma constante ônibus e carros ficarem empacados na Portaria 1 no fim da tarde. “Já demorei uns 40 minutos pra sair da USP” diz Gisele Utida, aluna da Geociências, que vem para a faculdade de metrô até a Vila Madalena, depois utiliza a Ponte Orca e o circular. Giselle reclama da insegurança a que está sujeita no trajeto entre a Estação Cidade Universitária da CPTM e a USP. “É muito perigoso atravessar a rua entre a ponte e faculdade”.

Chegar e sair da USP são verdadeiras peregrinações em alguns horários. Não há linhas de ônibus suficientes e a freqüência daquelas que existem não agrada a todos os usuários. A estudante da FFLCH Natália Pinheiro queixa-se da pequena quantidade de ônibus para a Zona Leste. “Ou fico aqui na FFLCH esperando meia hora pelo ônibus Praça da Sé ou vou até a Casa de Cultura Japonesa e preciso esperar mais de meia hora no Terminal Parque Dom Pedro. Posso ir até a Vital Brasil, onde passam três ônibus que servem para mim, mas ir para lá às 11 da noite não é muito seguro”, conta o estudante.

A saga de Giselle, Natália e a de tantos outros moradores de São Paulo tende a piorar caso não haja o desenvolvimento de políticas públicas que privilegiem o transporte público. De acordo com Raquel Rolnik, professora de planejamento urbano da FAU, as ações governamentais estão cada vez mais voltadas para o automóvel particular, o que aumenta a quantidade de carros circulando e, conseqüentemente, prejudica o trânsito. “Projeto viário nunca resolveu problema de mobilidade, precisamos de projetos de integração de transporte coletivo” afirma Raquel. A professora acredita que uma maior integração entre metrô, ônibus e CPTM facilitaria a vida de quem precisa vir à USP. “O problema é a [ausência de uma] intermodalidade, isto é, um cidadão poderia pegar um trem, se transferir para um ônibus e depois usar o metrô pagando o mesmo preço”.

Ciclovias

Além da reestruturação das relações entre os diferentes tipos de transporte coletivo, outras medidas possíveis para combater os crescentes congestionamentos são a construção tanto de ciclovias com bicicletários e sinalização adequada, quanto de calçadas largas e caminhos para pedestres. Todavia, para que as ciclovias funcionem, é preciso que elas estejam conectadas a algum transporte público.

A professora Raquel diz que o governo deve incentivar a locomoção não-motorizada dos cidadãos, oferecendo alternativas para o transporte, como é o caso de Vancouver, onde os ônibus têm espaços reservados para bicicletas. Dessa forma, o cidadão percorreria um trecho menor de bicicleta e um trecho maior utilizando trem, metrô ou ônibus.

Pensando em diminuir a circulação de carros e melhorar a mobilidade na região, a Subprefeitura do Butantã tem um projeto de uma ciclovia que abrange desde a divisa com Taboão da Serra e Paraisópolis até as proximidades da ponte Cidade Universitária, passando pelas futuras estações de metrô Butantã, Vila Sônia e Morumbi. O edital está marcado para o final de outubro e o projeto prevê cerca de 16,5 km de extensão total e bicicletários nas estações.

O percurso previsto cruza a rua Afrânio Peixoto, em frente à Portaria 1 da Cidade Universitária e, segundo Solange Sanchez, da Subprefeitura, o diálogo com a PCO (Prefeitura do Campus de São Paulo) foi insuficiente para que a ciclovia entrasse na USP. Eduardo Barbosa, da PCO, afirmou que faltaram explicações por parte da Subprefeitura quanto à origem dos recursos que seriam empregados na obra e a questões técnicas e de implementação.

Raquel Rolnik acredita que os usuários estão interessados em resultados e não se interessam por explicações para o insucesso das ações públicas. A USP deveria estar na vanguarda das políticas de sustentabilidade e de alternativas que incentivem uma locomoção ecologicamente correta, defende o professor do Departamento de Minas e Energia da Poli, Luis Sanchez, especialista em Gestão Ambiental. A disponibilização de sistemas de transportes mais inteligentes é a missão da Universidade; segundo o professor, “educação se faz pelo exemplo”.