USP reclama por modificações no sistema do Enade

A USP propôs mudanças para os métodos de avaliação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Uma comissão formada por membros do Conselho de Graduação (CoG) está discutindo com o MEC e com os organizadores do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) as propostas de mudanças para a possível participação da universidade na prova de 2009.

O Enade é a etapa da avaliação do ensino superior em que os alunos são testados. Há ainda a análise dos professores e da estrutura da instituição. O pró-reitor de graduação substituto, Prof. Quirino Augusto de Camargo Carmello, falou sobre as mudanças sugeridas pela universidade.

Quirino Carmello explica as reivindicações da USP
Quirino Carmello explica as reivindicações da USP (foto: Ana Athanásio)

Jornal do Campus: Quais os principais pontos da discussão?
Quirino Carmello:
Amostragem
Desde o começo nós estamos batendo que a amostragem, se bem feita, pode representar o todo. Mas se acontecer algum desvio ela pode chegar a conclusões diferentes. Como não são os mesmos ingressantes que depois fazem a prova como concluintes, pode-se chegar à conclusão, dependendo da amostra que se pega, que o estudante desaprendeu.

Premiação dos alunos
O argumento de deixar o provão (antigo Exame Nacional de Cursos) e passar para o Enade era de que o provão estava gerando um ranking que era usado comercialmente pelas particulares. No final, com o Enade acaba acontecendo a mesma coisa. Na hora em que se coloca um prêmio na história [os alunos com os melhores resultados recebem uma bolsa de pós-graduação do governo], a coisa piora. Passa-se a ter um “incentivo comercial” para que o aluno tenha um bom desempenho quando, na realidade, o Enade e o provão têm a finalidade de avaliar os cursos.

Avaliação de professores
A proposta é que o Enade utilize o Cadastro Nacional de Professores de Ensino Superior. O MEC fez um cadastro de professores, mas não está utilizando. Há professores que estão ligados a quatro, cinco instituições de ensino e, na realidade, só seus nomes estão lá. Quando os dados desse cadastro são cruzados, fica evidente que uma mesma pessoa não poderia estar nos quatro lugares ao mesmo tempo.

Preparação das provas
As provas são preparadas por uma instituição de ensino para cada curso. Isso acaba gerando tendências regionais que podem prejudicar os outros. Na proposta da USP, vai entrar que se tenha um grupo de várias instituições responsável pelo preparo da prova.

JC: Se a prova se tornar universal ela será obrigatória sob pena de retenção de diploma?
QC: É uma forma de se obrigar que todos os alunos participem, porque senão corre o risco de alguém incentivar os melhores alunos a fazerem a prova.

JC: E com relação aos boicotes?
QC: O aluno poderá se autodeclarar boicotante. Corre-se o risco, havendo essa alternativa, das universidades que têm interesse em que o seu pior aluno não seja avaliado o instrua a se autodeclarar boicotante. Eu acho muito difícil alguém, havendo a opção de se dizer boicotante, não se declarar e prejudicar a imagem “do seu diploma”, jogar a nota da instituição para baixo.

JC: Houve pressão interna ou externa para que a USP voltasse a participar?
QC: Não. Há um interesse do sistema federal que USP, Unicamp e Unesp, que são universidades que têm um bom nome e que formam bons profissionais, participem do sistema para legitimar e para servir de nível de comparação. Uma vez que querem a gente como comparação deve ser porque o nosso nível está igual ou melhor que o que eles têm hoje. Se você desloca esse nível de comparação para mais alto, você pode aumentar a população daqueles que são considerados péssimos. Vai melhorar a avaliação, mas não a situação do ensino; pode ser que se evidencie pior do que se viu até agora.
Não querendo comparar, mas é o que a USP acabou fazendo: a não participação no Enade é uma forma de boicote. Achou-se que estando fora e havendo interesse do MEC em que a universidade participe, há muito mais condições de tentar mudar aquilo que se acredita estar errado. Porque depois que você já está dentro, dificilmente consegue ter força política e de ação para mudar alguma coisa. Não é um boicote, mas é uma forma de pressionar. E o boicote nada mais é do que isso: os alunos não concordavam que a sua avaliação fosse usada como avaliação do curso e da instituição.

JC: A participação da USP em uma avaliação nacional seria uma forma de prestar contas à sociedade?
QC: Não adianta haver uma avaliação interna se ela não estiver balizada por uma externa. A USP pensa assim e por isso participava do provão. É simplesmente uma abertura de discussão [sobre a negociação da USP com o MEC e os organizadores do Enade] e não uma mudança de posição. Todo ano o ingresso da USP no Enade é discutido e votado, uma vez que nós não somos obrigados a participar [a USP é ligada à Secretaria de Educação de São Paulo e por isso não precisa seguir as determinações do MEC]. Desde o primeiro Enade, não houve fatos novos.