A descoberta da própria sexualidade

Em pleno século 21, após tantos tabus terem sido quebrados, a orientação sexual de uma pessoa ainda é motivo de discriminação. Sempre que alguém foge dos padrões estabelecidos, sofre conseqüências psicológicas e sociais. Descobrir-se homossexual ou transexual, por exemplo, pode causar muito desconforto para o próprio indivíduo e para quem convive com ele.

A sexualidade humana é difícil de ser compreendida e os estudiosos da área afirmam que o preconceito é produto da desinformação. Para Tereza Rodrigues Vieira, especialista em Bioética pela FMUSP(Faculdade de Medicina da USP) e professora na Unipar (Universidade Paranaense), “a ignorância é de quem nutre o preconceito. A sociedade precisa se propor a entender a questão sem tabus ou falsos valores”.

Na área científica, há divergências em torno das causas da homossexualidade. Alexandre Saadeh, médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, explica que ela não deve ser chamada de doença e que sua manifestação depende dos ambientes social e cultural. “A homossexualidade é uma variação da sexualidade humana assim como ter olhos azuis, castanhos, verdes ou pretos. Comportamento sexual não é escolha, não é uma opção que o indivíduo faz”, diz Saadeh, cuja opinião é corroborada por Tereza Vieira.

Geralmente, o jovem que apresenta dúvidas quanto à sua sexualidade passa por um processo de insatisfação com o fato e, até mesmo, nega ou rechaça o desejo homossexual. Saadeh diz que há, inclusive, alguns que inventam que são bissexuais, podendo levar um tempo para que haja a auto-aceitação. O apoio familiar é fundamental para o bem estar da pessoa e suas particularidades e individualidades devem ser respeitadas. “O interessante é que por muitos jovens se sentirem culpados em relação aos valores de seus pais, acabam despejando sobre eles o que sentem sem parar para perceber se eles querem ou agüentam saber a verdade”, conta o psiquiatra.

Transexualismo

Ao contrário do que se possa imaginar, o transexualismo não é uma conseqüência da homossexualidade. O transexual sofre de um transtorno de identidade de gê­nero por ter nascido com o sexo biológico diferente do sexo psicológico. “O homossexual não quer mudar de sexo, pois está contente com ele. Já o transexual tem intenso desconforto e deseja adequar o corpo à sua mente”, explica Tereza Vieira. Ela lembra que é importante diferenciar o transexual do travesti porque, diferentemente daquele, este tem satisfação com seu órgão sexual e não quer trocá-lo.

O HC (Hospital das Clínicas) realiza, desde 1997, cirurgias para a troca de sexo. Até hoje, apenas 25 operações foram feitas. Os requisitos para a troca de sexo são avaliados por uma equipe composta por psiquiatra, psicólogo, assistente social, endocrinologista e cirurgiões. Sua realização só é autorizada após o diagnóstico de transexualismo que leva, no mínimo, dois anos. Alexandre Saadeh avalia que “o impacto para um transexual é sempre imenso, por isso o acompanhamento médico é fundamental”.

Apesar dos avanços, homossexuais e transexuais ainda não são bem aceitos na sociedade. Segundo Tereza Vieira, a solução para o problema é simples: “O ser humano tem capacidade para aceitar a diferença. Basta se propor a isso, sem se vincular a conceitos ultrapassados pelo dinamismo da vida”. Já para Alexandre Saadeh, “lidar com a diferença é um sinal de maturidade. Aceitar não é necessário, mas respeitar sim”.

* Este texto apresenta diferenças de edição em relação ao publicado no jornal impresso.