Ativistas depredam laboratório da Biologia

Ativistas contrários ao uso de animais em pesquisas científicas invadiram laboratório no Departamento de Fisiologia Geral do IB (Instituto de Biologia) da USP no começo do mês. Equipamentos foram quebrados e paredes pichadas com frases como “pensem numa alternativa” e “nós voltaremos”.

É a primeira vez que algo do tipo ocorre no IB e, apesar de as pichações terem sido assinadas pelo grupo Frente de Libertação, a polícia ainda investiga os autores do ato de vandalismo.

A chefe do departamento do IB, Lucille Winter, diz que o prejuízo ainda está sendo calculado, mas que houve dano ao patrimônio público e ao investimento científico, já que foram inutilizados meses de trabalho.

Lucille explica que o laboratório atacado é usado em uma pesquisa sobre malária e não tem relação alguma com o uso de animais. Ela acredita que os invasores “só precisavam de um local para deixar a mensagem”. Para ela, falta conhecimento do que se passa no processo de pesquisa: “as pessoas acham que usamos os animais como algo descartável”. Porém, o pesquisador é o maior interessado na conservação de qualquer sistema vivo, pois a integridade do animal é essencial para o bom resultado da pesquisa, afirma Lucille.

Os 3 Rs

O ataque chamou atenção para discussão do uso de animais para fins científicos. Grupos de proteção defendem a substituição de práticas que causam sofrimento desnecessário ou que levam à morte do animal, como a vivissecção, usada no treinamento de estudantes.

Regina Markus, pesquisadora do IB e presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental, diz que “há 40 anos se tem uma preocupação extremamente grande com a experimentação animal. Disso surgem os famosos três Rs”. Do inglês Reduce, Refine and Replace, o princípio dos três Rs visa reduzir, aperfeiçoar e substituir as experiências com animais.

Esforços têm sido tomados para diminuir o uso de animais, como em testes de toxicologia de medicamentos. Regina fala da possibilidade de utilizar material conhecido como “pele artificial”, que simula o tecido epitelial humano, para estudar respostas alergênicas de cremes. Ela afirma que há um investimento para substituir o uso sempre que possível, “mas sempre vai haver uma porcentagem que é insubstituível”.

Regina Markus e Lucille Winter destacaram a necessidade de estabelecer um diálogo pacífico com os grupos divergentes, evitando atos violentos de intolerância. “A universidade não pode ser conivente com a intolerância, qualquer que seja”.

Alternativas para o uso de animais

A InterNICHE, rede de estudantes e professores propõe métodos alternativos ao uso de animais no ensino veterinário, como a experiência clínica real em hospitais por meio do acompanhamento de cirurgias. Assim é feito em países como Inglaterra e EUA. Outro meio possível para o estudo de anatomia e técnica operatória em animais é o convênio com fazendas ou clínicas veterinárias, onde animais mortos podem ser adquiridos para estudo.