Primeira página

Alguém já disse que o diabo mora nos detalhes – ou “opera no miúdo”. Numa primeira página, isso é ainda mais verdadeiro. Dramaticamente verdadeiro. Aí, o cuidado precisa ser redobrado, obsessivo, paranóico. Trata-se da vitrine do jornal, onde reluz a seleção das informações mais relevantes que ele traz, e deve ser apresentada de modo correto, claro e atraente, nessa ordem.

São muitos os detalhes complicados da primeira página do Jornal do Campus. Escolhi a edição anterior (número 344, ano 26), mas poderia ter pinçado qualquer outra. Portanto, não vai aqui, neste comentário, nenhuma intenção de “crucificar” uma edição em particular. Os problemas são relativamente constantes e esta que escolhi serve apenas de um exemplo aleatório.

Comecemos pelas fotos dos candidatos, no alto. Em nenhuma delas há legenda. Não há a identificação de quem aparece na fotografia. Isso seria obrigatório. O título da matéria, “Gilberto Kassab é favorito na Cidade Universitária”, faz menção a um deles, é verdade. Mas não há identificação dos dois.

No olho, o verbo no singular arranha o ouvido: “JC levantou que 44,3% da Cidade Universitária votaria em Kassab se as eleições fossem hoje”. Embora a gramática admita essa concordância, o núcleo do sujeito (44,3%) está no plural. Se o verbo o acompanhasse, a informação ficaria mais clara e mais direta.”Quanto à pontuação, nem se fala. No texto principal, uma frase começa com minúscula e também não é precedida do ponto final da frase anterior. A redação se esqueceu desse ponto. Eis a frase: “os votos nulos tiveram 17,4% e os brancos 1,3%; 5,6% não sabem em quem votar.” Claro que uma vírgula depois de brancos faria bem, mas ela sumiu. Em outra chamada, “Alunos burlam auxílios da Coseas”, faltaram aspas na abertura de uma declaração: “…Basta dar uma burladinha’, diz uma estudante.”

Haveria mais o que comentar, mas quero usar essas linhas finais para uma sugestão, inspirada por mais três cartas de leitores. Proponho que o JC chame uma reunião aberta com leitores, convocada por matérias no jornal e, em seguida, crie uma rotina para que eles participem dos rumos da publicação. Uma boa seção de cartas também faz falta.

Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA e autor de “Em Brasília, 19 horas” (Record, 2008) e “Sobre Ética e Imprensa” (Companhia das Letras, 2000).