Alternativas à margem das grandes editoras

A concentração do mercado editorial pode ser um motivo de desânimo para quem inicia a carreira. Segundo Luciana Salazar, que pesquisa a produção literária de autores editorialmente desconhecidos, é verdade que o mercado e a circulação de textos encontram-se restritos a pequenos círculos, numa dinâmica que busca principalmente “produzir estrelas”. O problema dos novos escritores é anterior ao contato com o público e refere-se à idéia do que é ser um jovem artista. Luciana contrapõe o desejo de status e fama de alguns autores iniciantes a quem realmente está disposto a trabalhar. A publicação de um livro, que ainda hoje se reveste de glamour, esconde o verdadeiro trabalho do escritor.

Para o professor Fábio Andrade os novos escritores sempre enfrentaram problemas na hora da publicação, mas hoje essa situação se tornou mais simples com o barateamento da publicação e a multiplicação de mecanismos de incentivo, como o fomento oferecido pela Petrobrás. Para ele, a dificuldade dos novos escritores agora é encontrar repercussão de seu trabalho. Mesmo com a expansão do número de leitores, é difícil absorver essa avalanche de novos trabalhos. Viviana Bosi, da FFLCH, porém, ressalta que a realidade do mercado permite maior dinâmica: “o marketing hoje faz com que novos autores sejam propagandeados muito rápido. Antes o escritor jovem distribuía para amigos, vendia pouco, demorava para se consolidar. A tendência é isso se popularizar”.

Pingos nos is

Mas não só do mercado editorial dependem os novos escritores. Quase todos os uspianos com quem o JC conversou e que se aventuram no ofício da escrita possuem um blog. Ricardo Myiada, do curso de Audiovisual, diz que a internet permite alcance praticamente ilimitado e não restringe o conteúdo do que ele escreve. “Assim posso experimentar à vontade e encontrar um público”. Renato Tardivo, pós-graduando em Psicologia Social, admite que não há como fugir da internet: “hoje as pessoas transitam muito por aí; até o Saramago aderiu recentemente. Que dirá nós, debutantes”, brinca.

Luciana enxerga a internet não apenas como uma nova plataforma de divulgação, mas como um novo meio de se fazer literatura. Para ela, não há como fazer algo novo se se busca meios de divulgação e reconhecimento já consagrados e que estão “caducos”. “O problema é que isso não vem junto com o ‘glamour do intelectual’ pretendido por boa parte dos escritores de hoje”.