Esconde-esconde

A grande manchete do Jornal do Campus em sua edição da segunda quinzena de novembro de 2008 nos lança de volta ao movimento estudantil: “Eleição do DCE revive fantasma da falta de representatividade”. Abaixo do título, em duas linhas, ocupando toda a extensão da página, uma linha fina: “Das cinco chapas, apenas duas não têm partidos claramente definidos, mas todas elas possuem ligações políticas evidentes”.

Estranhamente, o texto não faz uma única menção ao fato que a linha fina procura realçar. Em três parágrafos, a reportagem esmiúça a falta de representatividade, mas nada sobre vínculos das chapas com partidos políticos. Conta que, na eleição passada, apenas 7.854 dos 43 mil alunos da USP votaram na atual gestão do Diretório Central dos Estudantes. Um detalhe: não há como saber se os 7,8 mil são todos os que votaram na eleição ou são apenas aqueles que depositaram seus votos na chapa vencedora – nisso, a informação é obscura. Quanto aos vínculos partidários, enfim, não há palavra alguma.

Ao fim do texto da primeira página, o leitor interessado em se aprofundar é remetido à “Pg 5”. Se ele for à página 5, entretanto, encontrará apenas uma referência passageira àquilo que a linha fina prometia. Ei-la: “Este ano, apenas duas chapas não têm partidos definidos”. E então? Quais são, afinal, as relações entre os candidatos e as tendências políticas? O leitor, pobre dele, está entregue à própria sorte.

Quem se dispuser a seguir procurando as tais ligações políticas encontrará alguma resposta apenas na página 2 – cuja leitura não é recomendada na capa do jornal. Somente ali, na página 2, aparece um precário esclarecimento: “Baião de Todos” tem membros do PCB e do PSOL; “Reconstruir o DCE pela base” tem ligações com a AJR (Aliança da Juventude Revolucionária) e com o PCO; “Território Livre” é parte do MNN (Movimento Negação da Negação); “Nada Será como Antes” se vincula ao PSTU e “Que Picadeiro é esse?” é próxima do PT. Ufa.

Temos aí uma nova modalidade de jornalismo: a que brinca de esconde-esconde com o leitor.

Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA e autor de “Em Brasília, 19 horas” (Record, 2008) e “Sobre Ética e Imprensa” (Companhia das Letras, 2000).