Produções literárias uspianas em busca de seu lugar na prateleira

Novos escritores têm dificuldades para iniciar carreira literária; internet e iniciativas de alunos são opções durante os primeiros passos

Manuel Bandeira, até os 50 anos, era quem bancava suas próprias publicações. Hoje, o cenário para quem quer embarcar na vida de escritor não difere dos desafios encontrados pelo poeta. Mesmo com as possibilidades da internet e o barateamento da impressão, ainda é tortuoso o caminho para sobreviver no mercado editorial, ou apresentar uma alternativa viável a ele.

A universidade também tem seu papel nesse quadro. Porém, ela não é caminho seguro para que um aspirante a escritor encontre sua vocação. Para o poeta Glauco Mattoso, que estudou Letras Vernáculas na USP, o talento não depende da faculdade para ser despertado. “Sujeito não pode se iludir achando que vai fazer faculdade e sair de lá com uma editora para contratá-lo e toda mídia preparada para recebêlo, a coisa não funciona assim”.

A escolha mais provável de quem quer seguir carreira é entrar em um curso de caráter humanístico, como Letras ou Filosofia. Mas essa não é a regra. Viviana Bosi, professora do departamento de Teoria Literária da FFLCH acredita que o curso de Letras “possibilita ampliar o repertório do aluno, mas ele próprio pode fazer isso, como autodidata”. Rodrigo Morosetti Blanco, por exemplo, cursa Matemática e acaba de publicar um texto na revista Originais Reprovados. “Minha relação com a escrita é quase uma válvula de escape. Como sou matemático, sinto muita falta de criar”. Hoje ele tem um blog e acumula material para publicar seu primeiro livro.

Desde 2006, a Unisinos (Universidade Vale do Rio dos Sinos) oferece um curso de formação de escritores e agentes literários. Para o professor Fábio de Souza Andrade, do departamento de Teoria Literária da FFLCH, um escritor não precisa da academia para fortalecer sua imaginação. “Acho difícil trabalhar fantasia em laboratório”. Ele acredita que a universidade, quando está em um bom momento, pode propiciar um espaço de debate a partir da convivência de pessoas com origens e formações diversas. “Algumas pessoas vão sentir a necessidade de transformar essa energia de pensamento em literatura”. Para Viviana, uma das maneiras de tornar o ambiente acadêmico mais favorável ao surgimento de novos autores é aprimorar momentos de encontro e debate de idéias, como os seminários.