Reitoria cobra Sintusp e DCE por prejuízos da ocupação

Um ano e meio após o fim da ocupação da Reitoria da USP, não está claro para os participantes de que modo eles podem ser responsabilizados individualmente por supostos prejuízos ocorridos na manifestação. Cerca de 30 alunos – a Reitoria não divulgou o número exato, pois o procedimento corre em sigilo – e três funcionários foram chamados desde o final do ano passado para prestar esclarecimentos em sindicâncias abertas pela Universidade.

“A USP é obrigada a fazer as apurações porque da ocupação resultaram muitos danos ao patrimônio”, diz Márcia Walquiria dos Santos, procuradora-chefe da Universidade. Segundo ela, a pressão para a responsabilização pelos prejuízos vem do Ministério Público. Mas, se mais de um ano após os primeiros depoimentos ainda não houve seqüência nas sindicâncias, as entidades que tomaram parte na ocupação – Sintusp e DCE – por sua vez já receberam ordem de cobrança de R$ 346 mil.

Aníbal Ribeiro, um dos diretores do Sintusp, alega que o valor inviabilizaria as atividades do sindicato por pelo menos quatro meses, deixando ainda seqüelas por pelo menos mais um ano. Essa contabilização dos danos está sendo questionada pelo sindicato, que já recorreu judicialmente das ordens de cobrança. Magno de Carvalho, ex-diretor do Sintusp, diz que não foi cumprido o acordo que previa uma vistoria conjunta do prédio, e que o local teria sido violado antes da perícia policial. “Foi um grande erro nós confiarmos na Reitoria”, diz Carvalho, para quem houve armação em fotos divulgadas pela imprensa.

A centralização das investigações na 14º DP em Pinheiros é outro ponto criticado pelo Sintusp, já que as ocorrências começaram a ser registradas na 93º DP, no Butantã, a mais próxima da Universidade. Para o sindicato, a transferência dos inquéritos para o 14º DP se deveu a critérios políticos, já que no 93º DP eles não estavam tendo a conclusão esperada pelo governo do estado. Nas investigações policiais foram ouvidos a reitora, o chefe da segurança da USP, Ronaldo Pena, além de representantes da Adusp, do Sintusp e do DCE, além de dois alunos escolhidos aparentemente por terem dado declarações à imprensa sobre a ocupação.

O critério de seleção das pessoas convocadas, que posteriormente poderiam ser acusadas, é criticado pelos ocupantes, tanto nas investigações da Reitoria quanto nas policiais. Tanto funcionários quanto estudantes alegam que não há provas para as acusações.

Como a ocupação se definiu como um movimento coletivo de alunos e funcionários, sem líderes formais, fica difícil responsabilizar individualmente cada participante. Desse modo, é mais provável que possíveis punições acabem recaindo apenas sobre as entidades, o que prejudicaria a representação de alunos e funcionários.