Adrenalina real em um cenário virtual

Que imagem desfocada… “Os óculos ainda não estão ligados! Me empresta um minuto!” Entreguei aqueles óculos grandes e esquisitos, quadrados e de lentes escuras, nas mãos do técnico. Ele procurou o botão de liga/desliga durante alguns segundos e me devolveu a engenhoca. De repente, eu estava em um parque de diversões, numa montanha russa de trilhos roxos! Subi tão alto que não dava para ver o caminho da descida. Depois caí montanha abaixo em uma velocidade alucinante. Era inevitável não acompanhar as curvas do brinquedo com os movimentos do meu corpo, assim como a criança entorta a cabeça e joga o controle do vídeo game para o lado ao tentar fazer uma curva em um jogo de corrida de carros.

Não poderia nem mesmo dizer aproximadamente quantos minutos a apresentação durou, mas, com a brincadeira, pude ter a noção, ainda que com restrições, do que seria estar inicialmente em um lugar e…  … no mesmo instante em outro, em uma nova realidade. A sensação só não foi mais real porque eu tive apenas a experiência visual. A telepresença simularia o vento em meu rosto e a pressão do cinto de segurança sobre a minha bexiga, mas só a visualização tridimensional de um passeio pelo brinquedo já me deixou fascinada com o universo da realidade virtual (RV).

A apresentação a que assisti foi inédita. O novo projetor acabara de chegar ao estúdio do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Poli-USP e os operadores ainda estavam em fase de adaptação ao equipamento. Entretanto, foi uma mostra convincente do quão fácil é se sentir imersa em uma imagem digital. O aparelho é semelhante a projetores de cinema 3D, porém desenvolvido com uma tecnologia muito mais barata.

Segundo o professor Marcelo Zuffo, do LSI, ainda existe um longo caminho para chegar à verossimilhança da imersão como aquela vista no filme Matrix, mas as fronteiras entre o material e o digital estão cada vez menores com o aprimoramento das tecnologias em RV. Testemunhei o que pode significar o fim das distâncias. Virtualmente, ao menos.