Em cena, discussões sobre teatro

Mostra no Tusp traz debate sobre prática teatral; professores criticam aspecto mercadológico e elitista que o cenário pode tomar

“Vamos supor que você goste de vinho”, brinca René Marcelo Piazentin Amado, orientador de arte dramática do Tusp (Teatro da USP). “Você pode ser uma pessoa que bebe qualquer tipo de vinho, eventualmente apenas pelo efeito que ele provoca. Por outro lado, você pode educar seu paladar, degustar a bebida, cada vez mais ampliar sua percepção e tornar o contato mais rico. Da mesma maneira, nós podemos pensar o teatro”.

Piazentin é um dos organizadores da 5ª Mostra Experimentos do Tusp, que acontece até 27 de abril no Centro Universitário Maria Antonia e aposta no potencial do evento para a formação de público. Ele prevê o desenvolvimento de alguns projetos futuros, inclusive dentro da Mostra, no sentido da educar o olhar do espectador, que geralmente tem o referencial estético no realismo, típico da televisão.

Mas a Mostra pressupõe outros objetivos, entre eles o intercâmbio entre as produções de escolas públicas de teatro – neste ano participam USP, Unicamp, Unesp e Uerj, além da Escola Livre de Teatro de Santo André e a Fundação Artes de São Caetano. Para José Fernando Peixoto de Azevedo, professor da EAD e representante da escola na Mostra, o esforço do evento é tornar evidente para um número maior de pessoas fora da universidade o caráter público do teatro produzido por ela. “O teatro é uma arte pública, portanto deve ser exercido enquanto tal”, afirma.

Todos os trabalhos selecionados possuem algum vínculo curricular e são estruturados em três categorias: exercícios cênicos, estudos e ensaios. Analisando apenas o resultado apresentado, são poucas as diferenças entre os trabalhos e um espetáculo convencional que faz parte do circuito comercial, sendo que os que mais se assemelham são os exercícios cênicos. Mas como se trata de uma Mostra Experimentos, o foco é transitar pela pesquisa e propor um fazer teatral que não está necessariamente vinculado a um modelo comercialmente mais efetivo. “O conceito é fazer valer a ideia de processo, não de resultado”, explica Azevedo.

Teatro universitário

Em São Paulo, há um diálogo continuado entre o teatro da universidade e aquele produzido na cidade. “Não dá para dizer que exista um teatro na universidade e outro fora dela, não existe um movimento, nada que determine essa diferença”, afirma Azevedo. Esse vínculo entre os dois meios está ligado a uma efervescência na produção, produto de mobilização política e cultural, que se deu especificamente na capital. O maior fôlego que o teatro tem na cidade hoje se deve ainda pela aprovação do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo em 2002, “que visa não ao financiamento de espetáculos, mas ao financiamento público de pesquisas públicas de teatro”, enfatiza o professor da EAD.

Azevedo afirma que hoje o grande empecilho para o teatro que não “acredita na bilheteria” é conseguir um financiamento que garanta a continuidade dos trabalhos, além da ampliação da esfera de debate “sem a qual o teatro não existe, mas que exige uma mobilização radical da imaginação social”. Para Piazentin, o problema é a ideia de que o teatro ainda é uma arte elitizada. O primeiro propõe soluções coletivas, inserir a disputa pelo espaço e financiamento públicos num movimento. O segundo faz um apelo para o espectador ser aberto a novas experiências estéticas.

A Mostra Experimentos fica em cartaz até 27 de abril, de quarta a sexta, às 20h, sábados, às 21h, e domingos e segundas, às 20h, no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 294, Consolação – telefone: 3255-7182). Os trabalhos serão exibidos também no Circuito Tusp. Programação completa em www.usp.br/tusp. Entrada franca.