Sintusp indica greve para abril

Questão salarial, empregos ameaçados e “ataques” da Reitoria podem levar o Sindicato dos Trabalhadores da USP a uma greve por tempo indeterminado. Os funcionários paralisarão suas atividades no dia 1º de abril para realizar a votação. Se aprovada, a greve terá início imediato.

Um dos diretores do Sintusp, Aníbal Cavali, classifica como ataque da Reitoria a demissão do funcionário e diretor sindical Claudionor Brandão, em dezembro passado. Outra reivindicação vai contra a multa de R$ 346 mil ao Sintusp e ao DCE (Diretório Central dos Estudantes) por supostos danos materiais ocorridos durante a ocupação da reitoria em 2007.

Sobre a questão salarial, o Sintusp entende que USP, Unesp e Unicamp apresentam boa situação orçamentária. Planilhas oficiais do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) mostram que gastos relativos à folha de pagamento devem ser cerca de 85% do orçamento da universidade. Porém, segundo pesquisas realizadas pela Adusp desde 2006, na USP, a folha de pagamento equivale a apenas 75%. Se a universidade transformasse 80% do valor dessa folga em reajuste salarial, de acordo com a Adusp, os funcionários teriam aumento de 21%. “O suficiente para repor perdas históricas dos funcionários públicos, que tiveram queda de 35% em seus salários desde 1989”, afirma Aníbal Cavali.

O diretor está certo de que a greve será aprovada em 1º de abril, data instituída pelos trabalhadores como “Dia nacional de luta contra as mentiras do governo”. Segundo ele, “a greve é um instrumento de pressão para abrir negociações junto à reitoria”. O Sintusp espera que haja adesão do DCE e que as manifestações sirvam de estímulo para os funcionários e estudantes da Unesp e da Unicamp.

Contudo, apesar de declarar apoio aos funcionários da USP em suas mobilizações e criticar o autoritarismo por parte das reitorias, o DCE não planeja participação na greve. “Achamos legítima a posição de chamado à paralisação dos funcionários pelo sindicato”, afirma Jonas Alves, diretor da entidade. “No entanto, não defendemos uma greve nesse momento para os estudantes”.

Histórico da demissão

Em dezembro do ano passado, Claudionor Brandão, funcionário da Prefeitura do Campus, recebeu uma notificação da Reitoria sobre sua demissão, que foi classificada como “justa causa”. O principal motivo é um episódio da greve de 2005, em que Brandão teria liderado um grupo de funcionários em invasão à biblioteca da FAU.

No dia 16 de dezembro, aconteceu a primeira paralisação de funcionários contra a demissão. Houve ato em frente à reitoria e pedido judicial de reconsideração – até hoje sem resposta por parte da reitoria. Em 18 de fevereiro, dia da Calourada Unificada, aconteceu a segunda paralisação, em que os funcionários exigiram uma reunião com a reitora Suely Vilela, marcada para 26 de fevereiro deste ano.

Nessa data, a Reitoria comunicou ao Sintusp que Brandão não poderia participar das discussões, pois já não mantinha vínculos trabalhistas com a USP (em contrapartida, o estatuto do Sintusp garante sua permanência na diretoria). A reitora Suely apenas abriu a reunião e depois se retirou, concedendo à sua equipe o poder de deliberar sobre o caso de Brandão. No decorrer da reunião, os representantes da Reitoria mostraram-se irredutíveis quanto a reconsiderar a demissão. Agora, o sindicato espera esgotar todos os recursos políticos para obter uma reconsideração. Em último caso, o sindicato entrará na Justiça.

Procurada pelo JC, a assessoria de imprensa da reitoria explica que Suely não participou da reunião do dia 26 de fevereiro, pois a data não constava do calendário de “reuniões sistemáticas” estabelecido entre Reitoria e Sintusp. Afirma, ainda, que em caso de greve dos funcionários, manterá aberto o diálogo, além de tentar aperfeiçoá-lo, como faz com “todas as entidades de classe que compõem a comunidade acadêmica”. Questionada sobre a demissão, a Reitoria declarou apenas que “as questões envolvendo o sr. Claudionor Brandão estão sendo tratadas no âmbito jurídico da universidade”.