Por vezes desconhecidos, serviços disponibilizados atendem comunidades externa e interna e podem, inclusive, ser gratuitos
“A USP é enorme”. É essa a frase que regularmente está na boca dos que chegam ao campus da Universidade de São Paulo. Dada essa amplitude, o que muitos podem desconhecer, no entanto, é a gama de serviços gratuitos ou de baixo custo que são oferecidos tanto à comunidade USP – no qual se enquadram alunos, funcionários, docentes da Universidade e seus dependentes – quanto à externa.
Porém, vale ficar atento a prazos e outros requisitos, pois a procura por alguns serviços é grande e o oferecimento de alguns, incerto. Isso ocorre porque há, em certos casos, vínculo com cursos de graduação e pós-graduação. Na clínica da Faculdade de Odontologia (FO), os próprios alunos atendem gratuitamente à população, mas as especializações disponíveis a cada semestre dependem das matérias da grade curricular. A procura pela consulta odontológica é grande e nem todo interessado irá, necessariamente, fazer o tratamento. No final de cada semestre, há uma triagem para selecionar quem serão os pacientes – e que pode ser agendada pelo telefone (0xx11) 3091-7418.
No caso do Instituto de Psicologia (IP), o atendimento é matéria obrigatória para graduação e, por isso, acontece apenas durante o período letivo – ao final, o paciente pode continuar com o mesmo psicólogo, caso o aluno continue cursando a disciplina, ou com outro estudante. O serviço é prestado por alunos sob supervisão de docentes. A clínica atende, por semestre, cerca de 70 pessoas, entre moradores do Butantã e comunidade USP.
Sem custo
Há ainda atividades gratuitas e sem prazo de inscrição, que podem ser feitas ao longo do ano. É o caso do Laboratório de Abelhas do Instituto de Biociências (IB), localizado na Rua do Matão, 321, travessa 14. O local possui diversas correntes de pesquisas sobre o inseto e permite visitas gratuitas, por agendamento, e ainda vende o mel produzido pelas abelhas estudadas.
O atendimento do Hospital Universitário (HU) também é gratuito – porém, é restrito à comunidade USP e moradores do Butantã. “É claro que, se alguém que mora na Lapa e não for da USP passar mal aqui, nós receberemos. Mas nosso foco vai ser estabilizar o paciente para ele ser transferido para outro hospital”, explica a assistente-superintendente do HU, Maria Filomena Zotelli. Apesar da gratuidade, o HU possui apenas quatro especialidades médicas: clínica médica, pediátrica, gineco-obstétrica e cirúrgica. O atendimento é feito mediante cadastro, com RG e cartão USP, no caso da comunidade USP ou por encaminhamento de um posto de saúde, nos demais casos.
Outro serviço oferecido é a orientação jurídica do Departamento Jurídico (DJ) da Faculdade de Direito (FD), feita pelos próprios alunos sob orientação de onze advogados. É possível esclarecer eventuais dúvidas sobre leis e direitos e, ainda, solicitar o acompanhamento do processo. Para consultas, não é necessário passar por seleção econômica, ao contrário do acompanhamento de casos, que são voltados para famílias com até três salários mínimos. O departamento possui também um serviço de mediação e conciliação, que disponibiliza alternativas para as partes envolvidas, sem o desgaste físico e psicológico para usuários que poderiam surgir no tramitar de um processo.
Impressões
Morador do bairro, Diego Alvez de Souza, 21, conhece bem o atendimento psicólogo no IP. Ao menos duas vezes por semana ele leva seu irmão de seis anos para as consultas. “Ele era muito agitado”, conta Diego. “Só queria brincar o tempo todo e nunca obedecia”. O problema surgiu quando ele tinha três anos, e, através da creche que frequentava, a família soube do serviço de psicologia clínica. Após esperar um mês, o garoto iniciou o tratamento. Hoje, com três anos de terapia e tendo trocado de psicólogo apenas uma vez, seu comportamento melhorou bastante, segundo relata Diego.
Já para Maria dos Remédios, 49, um dos tratamentos oferecidos na USP foi fundamental para superar uma difícil fase de sua vida. Há três anos, a auxiliar administrativa começou a participar das atividades físicas do Programa Complementar ao Tratamento de Depressão, do Núcleo de Psicologia do Esporte e Atividade Física (Nupsea), apenas para tratar dores na coluna. Ela não imaginava, porém, o abalo que sofreria no último ano, quando viu falecerem, em um curto espaço de tempo, pai e marido.
“Fui viajar para ver meu pai e, quando estava na estrada, recebi a notícia da morte do meu marido. Um mês e nove dias depois, já em São Paulo, descobri que meu pai havia falecido. Foi muito difícil”, recorda-se. Ela afirma que contou mais do que nunca com a ajuda das atividades do Nupsea. “[Perder alguém] é uma coisa que a gente nunca espera”, diz. “Claro que ainda choro. Mas aqui eu tenho um ambiente muito bom, a oportunidade de conhecer novas pessoas e fazer amizades”, aponta.
A gratuidade foi um fator atrativo para Sandra Regina Oliveira, funcionária da USP que, em 2004, procurou o HU devido a um problema de coluna causado pelo volume de seus seios. Interessada na intervenção cirúrgica para redução de mama, Sandra entrou na fila de espera do procedimento após fazer uma série de exames atestando que seu caso era cirúrgico – condição para se obter este serviço. Depois de um ano, ela pôde operar sem custo nenhum, exceto os remédios pós-operatórios. “Não me sentia bem com meu corpo, tinha vergonha”, conta. Apesar da recuperação difícil, Sandra afirma não ter nenhuma crítica ao HU – recentemente, ela operou também a vesícula pelo Hospital Universitário. “Faço tudo lá, mesmo porque não tenho condições de me tratar em outro lugar”, afirma.
Reabertura de vagas
É importante lembrar que muitos cursos ou atividades que já tiveram as inscrições encerradas oferecem, periodicamente, novas vagas. É o caso de cursos de idiomas da Escola Politécnica (Poli), Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas (FFLCH) e Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), além do cadastro para cirurgia gratuita de correção de mordida, na Faculdade de Odontologia (FO) e para prática de esportes diversos no Cepeusp.