CAs têm problemas com repasses de verbas

Diretorias de unidades impõem restrições e complicam arrecadação dos centros acadêmicos

Dificuldade de arrecadação é um problema compartilhado por muitos centros acadêmicos (CAs) da USP. Uma solução comum para sair do buraco é o aluguel de espaços para terceiros, sendo o local licenciado ou não. Como não é possível existir um espaço privado de estudantes, existe um termo de uso – que deixa a negociação das empresas com a faculdade, mas participa da arrecadação: “O termo de uso é simples: assinam o CA e a faculdade. Ela reconhece os espaços estudantis e repassa 60 ou 70% da verba do xerox, por exemplo”, comenta Felipe Alonso, do centro acadêmico da Filosofia (CAF), sobre o mecanismo que a atual gestão pretende negociar com a FFLCH. O termo de uso, legal entre as partes, traria alguma renda para o CAF, que passa por dificuldades financeiras.

Essa situação é compartilhada por outros estudantes da USP que participam de diretórios, grêmios e centros acadêmicos, como é o caso de CAs da Escola Politécnica (Poli) – dos cursos de Engenharia Mecânica, Química e Naval -, e do XXXI de Outubro (Enfermagem). Esses últimos gozaram nos últimos anos de arrecadação por meio de aluguéis de espaços para comércio, porém mudanças em acordos das estruturas internas das unidades estão alterando esse quadro, criando cada vez mais dificuldades e dúvidas em relação aos espaços estudantis.

O CA da Enfermagem tirava metade da sua renda de uma pequena feira que acontecia durante a semana no espaço dos estudantes (a outra metade vem do aluguel de uma lanchonete). Porém, desde que entrou em reforma em março, por resolução do Conselho Técnico Administrativo (CTA) da escola, os estudantes se perguntam se o espaço voltará a ser local de encontro, reuniões e eventos: “A reforma acabou, porém estamos sem notícias. A diretora diz que quer licitar e reverter o dinheiro totalmente para nós, como sempre foi, mas essa decisão depende também do CTA, e nem todos compartilham da idéia de que os alunos merecem um espaço”, informou diretora do XXXI de Outubro.

Interior do centro acadêmico XIII de Outubro, da Enfermagem, onde ocorria a feira que ajudava na arrecadação (foto: Lia Segre)
Interior do centro acadêmico XIII de Outubro, da Enfermagem, onde ocorria a feira que ajudava na arrecadação (foto: Lia Segre)

Os CAs da Poli também estão incertos sobre o futuro das suas arrecadações. “Temos uma licitação sobre o espaço que alugávamos para um xerox e uma cantina [bloco 19, Química] há cinco anos,encerrando no próximo, na qual uma parte vai para o departamento e outra para nós”, informou um ex-diretor do CA da Engenharia Química que não quis se identificar. Ele acompanhou ano passado as tentativas fracassadas de negociação com a diretoria, de modo que o aluguel dos serviços passará a ser dividido somente entre a diretoria e o departamento na renovação do próximo ano.

Na Engenharia Naval, a medida já foi implementada, segundo Marcelo Pedro (ex-diretor do CA do curso) que participou das negociações: “Pelo modelo atual, eles [restaurante] pagam para a diretoria da Poli, que promete repassar o dinheiro quando necessário. Mas devido à burocracia, os pedidos devem anteceder em média três meses [1/4 da gestão], e por isso dificilmente alguém recorre a esses pedidos”.

“Com certeza os alunos serão prejudicados. Mas o povo tem a pegada, ninguém quer ver o ‘centrinho’ sumir, nem que seja fazer acordos com a diretoria até achar outras fontes de lucro”, afirma Alexandre Pinto, vice-presidente do CA da Mecânica. As atividades extracurriculares – como viagens a congressos, semanas temáticas e palestras – perdem força, assim como as festas, proibidas pela nova diretoria, o que resultou em considerável diminuição da renda. “Querem que os alunos percam o espaço, mas até agora nenhum proposta de ocupação foi oferecida” diz o CA da Enfermagem sobre seu próprio espaço disputado.