Desafios ambientais para 50 anos

Pesquisadores da USP analisam os principais problemas ecológicos que deverão ser enfrentados durante a próxima metade de século

O desenvolvimento de tecnologias verdes e a conscientização ecológica vislumbram a caminhada do homem rumo à sustentabilidade. Entretanto, as emissões de gases agravantes do efeito estufa e o desequilíbrio ambiental mostram que ainda há muito a se fazer para preservar a biosfera. Com base em estudos e pesquisas atuais, professores da USP prevêem como será o planeta em 50 anos e mostram pontos de vista diferentes quanto à salvação da Terra.

Se as projeções do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) e de estudos mais recentes estiverem corretas, o planeta vai ser, em 50 anos, em torno de 2ºC mais quente, com redução de 20% a 30% do índice pluviométrico nas regiões tropicais. O professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP, afirma que, especificamente no Brasil, essas mudanças vão afetar o funcionamento de ecossistemas, como a Amazônia, o Serrado e a região do nordeste.

Já em países como Argentina, Índia e China, cujos rios dependem da água originada do derretimento das geleiras, o desequilíbrio climático poderá causar sérios problemas de abastecimento hídrico, como afirma o professor Fábio Luiz Teixeira Gonçalves, do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) da USP.

Segundo Gonçalves, alguns danos causados ao meio ambiente são irreversíveis, como é o caso dos corais. Ele afirma que, mesmo que se interrompam as emissões de CO2, esses animais já estão condenados à extinção, devido ao aumento da acidez dos mares.

O professor alerta ainda para o fato de que, se as emissões não forem controladas, atingiremos, antes do ano 2060, um nível superior a 560 partes por milhão de carbono na atmosfera. Segundo Gonçalves, essa concentração é considerada crítica, pois, a partir dela, a condição de vida na Terra pode dar um salto para outro patamar de equilíbrio, com a redução de até um terço da biodiversidade.

Além das questões ambientais, haverá ainda problemas com o lixo não reciclável e com a produção de alimentos, devido ao aumento da população. Apesar dos avanços da engenharia genética e da bioengenharia, o professor Gonçalves teme que a variabilidade climática atinja um nível que as plantações não resistam.

Um tanto pessimista quanto às projeções para as próximas décadas, o professor acredita que o mundo é hoje muito mais confortável do que será daqui a 50 anos. “Eu acho que vamos sobreviver, mas a duras penas”. Ele acredita que acordos internacionais em defesa do meio ambiente têm pouco impacto na prática. É necessário que muitas outras pequenas medidas, como aplicação de energias alternativas e conscientização da população, ajam em conjunto para que a proteção seja eficaz.

Por outro lado, o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP, é mais confiante na relação entre a imposição de políticas públicas e a defesa do meio ambiente. Segundo ele, o governo precisa ter uma estratégia de longo prazo para enfrentar as questões das mudanças climáticas que vão surgir nos próximos 50 anos. “Assim como se faz planejamento social e econômico, o planejamento ambiental vai ser absolutamente necessário”, afirma.

No caso do Brasil, uma das mais preocupantes questões ambientais é o desflorestamento. Segundo Artaxo, se a taxa atual de desmatamento da Floresta Amazônica se mantiver, cerca de 40% da mata original não vai mais existir em 2050. Esse número considera somente o desmate devido a pressões socioeconômicas, ou seja, a derrubada de árvores com finalidade de uso da terra para o plantio, pecuária e extração de madeira. Nesse caso, as políticas públicas são decisivas para o controle nas próximas décadas.

A “sociedade do desperdício”, como é chamada pelo professor Artaxo, acostumou-se a usar os recursos naturais de maneira indiscriminada, como se eles fossem infinitos e o planeta, indestrutível. Ele prevê que, nos próximos 50 anos, todas as áreas da atividade humana vão ser reformuladas, para que os recursos do planeta sejam utilizados de forma mais eficiente. Para o professor, a proporção de materiais reciclados aumentará e serão criados materiais mais facilmente reaproveitáveis, que reduzirão o desperdício. “Não há dúvida de que o carro das próximas décadas vai ser desenhado para ser mais reciclável. E isso é essencial porque o preço das matérias primas vai ser maior. Não é só uma questão econômica, mas de sustentabilidade”, diz.