Emergentes devem ter maior participação

“É claro que o que vou dizer aqui é uma brincadeira, mas se pensarmos nas mudanças ocorridas no cenário político atual, diríamos que o ex-presidente estadunidense George Bush é o maior líder de esquerda do mundo”. A declaração, aparentemente absurda, é de Amâncio Jorge Silva Nunes de Oliveira, professor doutor do Departamento de Ciência Política da USP e coordenador científico do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (CAENI) do DCP-USP, que se explica: “Imagine só se tivéssemos no lugar de Bush um governo à la Clinton. Provavelmente, não teríamos hoje um cenário no qual tantos líderes ditos de esquerda tivessem tanta força na América do Sul. Talvez também não houvesse um desgaste tão grande das potencias militares norte-americanas e, assim sendo, talvez não víssemos agora um presidente democrata e negro na Casa Branca. Quem originou isso tudo? Ironicamente, foi essa tragédia chamada governo Bush que, por erros claros, permitiu um contexto mundial onde tais acontecimentos fossem possíveis”.

Tais dizeres servem para pensarmos que, ao contrário da famosa sentença proferida pelo filósofo Francis Fukuyama em 1989 (“a História acabou”), frente à derrocada do sistema comunista soviético, as movimentações sociais e políticas novamente ganharam corpo, acrescidas de um elemento notável neste início de milênio: a emergência de países com grandes populações, tais como China, Índia e Brasil, trazendo consigo o ingresso de um grande número de pessoas no mercado consumidor. “Esta é uma mudança fundamental, que ofereceu muito dinamismo à economia desses países periféricos, sendo esse um elemento novo do capitalismo”, atesta Amâncio.

Para o Brasil, as marés se anunciam mais mansas para os próximos anos, dada a tendência de consolidação da democracia e de modelos econômicos ainda um tanto recentes. “É necessário entendermos que, hoje, alcançamos um amadurecimento na maneira como a população expõe suas demandas. Apesar das crises, as instituições vem sendo respeitadas, porque as pessoas entenderam que é possível promover reformas graduais sem que tenhamos de derrubar o modelo antigo. A própria mudança de postura do PT, agora mais pragmático, mostra esse entendimento de que medidas drásticas não tem assento na realidade, pois a sociedade não quer isso”, finaliza o pesquisador.