Greve anunciada e jornalismo

Jornalismo é daquelas coisas que parecem fáceis, mas não são. Jornal é algo tão “rotineiro”, que poucos se dão o trabalho de pensar sobre ele e sobre o trabalho que dá montar uma edição de jornal.

Edição passada, o Jornal do Campus publicou ao lado da coluna do ombudsman uma errata com quatro itens. Fiquei impressionado com o espaço dedicado a ela. Não me surpreendi com a posição – parece natural que as correções acompanhem a coluna (embora os erros não tenham sido apontados por mim). Quatro erros, corrigidos com muita visibilidade. O que é bom.

Ruim é que o JC acolha tanto erro. Na mesma edição, havia pelo menos mais quatro. Um deles, aliás, comum: o nome do jornal O Estado de S.Paulo grafado erradamente. Nada grave, mas o leitor pode perguntar – e ele faz isso – se o deslize encobre outros, mais graves, e menos perceptíveis. Encobre.

A cobertura da edição prestou muita atenção em uma assembléia do Sintusp, o sindicato que reúne os funcionários da universidade. A assembléia foi importante, até onde entendi, porque nela se discutiu e votou uma greve convocada pelo sindicato (que foi adiada). Assunto importante, a merecer manchete. Pena que a reportagem não informa muito – e quando o faz, assume uma parte, a da diretoria do sindicato.

Cobrir este tipo de evento é difícil. Sindicatos não são muito receptivos a jornalistas, em qualquer lugar do mundo, para dizer o mínimo. As questões discutidas envolvem interesses muito fortes, e buscar a isenção é algo complicado. Mas sair na chuva implica em se queimar, como dizia Matheus (Vicente, não o apóstolo).

Fiquei com muitas dúvidas. O número de presentes é representativo? Eram “quase 300” (como está na capa) ou “mais de 300” (como está na matéria)? Ou eram menos do que trezentos (como parece pela fotografia, cuja legenda falava em “cerca de”)? A posição dos dirigentes do sindicato, favoráveis à realização da greve, recebe bom destaque, mas não há ninguém defendendo outra posição. As razões da greve não são claras para um não-iniciado e a infografia que acompanha o texto torna tudo mais confuso ainda. O fato de que uma assembléia representativa (presumo que tenha sido) opte por não deflagrar uma greve já anunciada, por si só, era uma pauta importante. Por que a greve, afinal, foi adiada? Por causa dos feriados? Greve tira folga? Quais as unidades onde a mobilização pró-greve era mais forte, e quais onde isso não ocorreu? Por quê?

Marco Chiaretti é editor-chefe do Estado Online. Fale com o ombudsman.