Nova geração flexibilizará religiões

Ao final da Segunda Guerra, os Estados Unidos viveram um fenômeno de crescimento populacional bastante interessante, denominado “Baby Boom”. Esses “boomers”, que se tornaram jovens adultos no final da década de 60 e início de 70, foram protagonistas de uma geração que, cercada pelas incertezas de estabelecer seus próprios valores pessoais, experimentou novos estilos de vida, de crenças e idéias que os distinguissem da geração de seus pais.

Hoje, estes respeitáveis senhores são avós da geração que agora se apresenta. E que daqui a 50 anos, também terão seus netos, que crescerão com as mesmas dúvidas e necessidades de afirmação que hoje os assombra.

Para o professor e pesquisador da USP Geraldo José de Paiva, especialista em Psicologia Social com ênfase na questão religiosa, tal conflito é parte de um processo histórico contínuo, onde a busca por opções que se adequem às necessidades das pessoas delineia a maneira como estas farão suas escolhas: “Se pensarmos historicamente, em outros tempos, a estrutura da vida social era mais ligada à religião, pois esta tinha exercia uma influência política. Hoje, no ocidente, vivemos em estados essencialmente laicos. No caso da igreja católica, ela mesma já se pronunciou favorável a tal laicismo. Em suma, diria que estamos em um tempo onde há um estilhaçamento da instituição católica no Brasil, o que abriu espaço para o surgimento de vertentes antes abrigadas sob o guarda-chuva do catolicismo. Além disso, há também opções menos doutrinárias e mais relacionadas com a filosofia e a vida comum das pessoas, como o budismo. É justo que alguns optem por seguir aquilo que lhes parece mais lógico”, atesta.

Há ainda que há um ponto crítico que precisa ser revisto na relação entre as doutrinas religiosas e a sociedade, segundo o pesquisador, que é a chamada evolução do dogma. “Veja, assim como a ciência, as doutrinas são muito elaboradas, mas chegam de maneira muito simplória às pessoas, pouco inspiradora. O conhecimento é passado de uma maneira superficial e até autoritária, que não condiz exatamente com aquilo que as religiões podem proporcionar. Pais, professores e até mesmo alguns padres não tem o mínimo preparo para uma tarefa delicada como ensinar preceitos profundos e milenares como os da fé cristã. E há ainda outro ponto crítico: Recentemente, o próprio Papa Bento XVI disse que conceitos e linguagem usados pela igreja não são mais inteligíveis ao nosso tempo”.

Mas afinal, que caminhos podemos vislumbrar para os próximos anos, em tal cenário tão cercado de incertezas? “É possível que as pessoas se tornem mais agnósticas, ou mesmo procurem vertentes por natureza ligadas ao cristianismo. Isso explica o crescimento que vemos das igrejas evangélicas. Mas é importante lembrar que é típico do ser humano esse conflito no passar das gerações, no qual você se reconhece como parte de um grupo ao identificar o seu oposto. Do meio para o fim do século XIX, na França, houve um florescer de grandes intelectuais religiosos que se tornaram jesuítas, como Charles de Focauld (beatificado em 2005). E eles eram descendentes dos maiores céticos da geração anterior. No caso do Brasil, creio numa maior pluralidade, ainda que todas estas vertentes estejam ligadas pela influência cristã”, finaliza.