O jornalismo científico e o emaranhamento quântico

Vamos lá. Ler o Jornal do Campus não é tarefa simples, apesar de seu diminuto tamanho. Oito páginas de reportagens e entrevistas sobre temas complexos, reunidos um pouco bruscamente, em um desenho que talvez precisasse de um redesenho. Talvez, nada. Acho que precisa, sim. Mas este não é o ponto. O ponto aqui é o texto, e as informações contidas nele (neles).

Uma página me chamou a atenção, aquela que trata do momentoso tema do teletransporte quântico (a página seis). O assunto me interessou imediatamente, já no título da chamada da primeira página, “Teletransporte?” (um título com ponto de interrogação?). O testozinho estava lá, meio que no meio do árido, complexo, cheio de gravidade e obrigatório material sobre a reforma do estatuto da USP e dos meandros do Conselho Universitário.. Perguntei-me se era possível o teletransporte do próprio Co. Não era isso. Pensei em “Jornada nas Estrelas”. Era isso e não era. Li tudo e fiquei emaranhado..

A história começa com uma entrevista cujo título quer saber para onde iriam suas (minhas) partículas. Não sei do destino delas, mas fiquei interessado, até porque eu mesmo estudei física na USP, há mais de 30 anos. À época, assisti uma aula sobre o arco-íris. Um dos mais belos fenômenos do nosso belo mundo transformou-se em uma apresentação fascinante sobre equações, ondas e partículas. Não entendi nada, mas fiquei tão fascinado que penso na aula até hoje (foi em 1976). Lembrando-me do arco-íris, fui atrás das partículas e seu destino.

Aí entra o problema do jornalismo científico. Como se conta uma história complexa a leigos? E como se faz isso em poucas palavras, premido pelo tamanho e pelo desenho das páginas? Como se faz isso sem uma boa arte, um infográfico que resuma tudo de maneira visual?

Não deu certo. Terminei de ler a esforçada entrevista sem comprender nada do assunto.. Fiquei totalmente emaranhado, quanticamente disperso pela complexidade das respostas, muito preocupado com a possibilidade de alguém ”modificar remotamente o estado quântico” de alguma coisa minha. O estado quântico, este também, me impressionou, já que ele envolve o conjunto de informações possíveis sobre um sistema quântico, mas como não sei o que diabos é o dito sistema quântico, fiquei nas nuvens (e sem arco-íris). Mais impressionante ainda é a possibilidade de dois íons terem sua essência iônica emaranhada no vácuo. Melhor que isso, só os ícones do glossário: uma representação pré-quântica de um átomo. Achei engraçado ver elétrons girando enlouquecidos em torno de um núcleo imóvel. Pena que não é nada disso.

Enfim, não entendi nada mas vou me lembrar da página pelos próximos 33 anos.

Marco Chiaretti é editor-chefe do Estado Online.