Padronização em casas populares ignora particularidade brasileira

As casas de um programa  habitacional são, em geral, padronizadas, para reduzir os custos e agilizar as obras. Professores entrevistados pelo JC defendem que a estrutura  física da casa e o planejamento arquitetônico do “MinhaCasa, Minha Vida” devem  atender às particularidades de famílias e regiões diferentes.

Mesmo que uma moradia popular não siga tais demandas, existem especificações básicas para qualquer construção residencial. O professor Alexandre Delijaicov, da FAU, explica que a casa deve ser projetada de modo que todos os cômodos possuam janelas que recebam a luz do sol por um período do dia, assim como a sala de estar e a cozinha devem ser desenhadas para incentivar a convivência familiar e a movimentação.

“Tem-se como metragem ideal os 15 m² por habitante da residência”, explica Delijaicov. “Se considerarmos a família média com cinco componentes, as casas deveriam ter, no mínimo, 75m² de área varrida”.

Além disso, a moradia deve oferecer condições de acessibilidade e possibilidade de movimentação livre, para os idosos e portadores de deficiência física.

Para o professor Oreste Bortolli, também da FAU, a grande dificuldade em construir casas de acordo com necessidades particulares é que o governo não conhece, de fato, o perfil das famílias brasileiras. Para ele, uma avaliação social é imprescindível em um programa habitacional.

Igualmente importante é a adaptação da moradia às condições climáticas de cada região do Brasil, já que o “Minha casa, minha vida” se propõe a contemplar o país inteiro. “Uma casa na Amazônia não pode ser idêntica a uma casa no Planalto Central ou em São Paulo”.

Bortolli afirma que tais questões demandam um tempo longo de planejamento, o que não ocorreu nesse programa. Como exemplo, o professor cita o Plano Nacional de Vivendas (PNV) implementado no Uruguai entre 1968 e 1983. A elaboração do programa começou bem antes, em 1950. Segundo Bortolli, durante esse tempo, foram desenvolvidos projetos de casas com um a quatro dormitórios, e a zona central de Montevidéu foi mapeada para identificar pontos estratégicos para a construção.