Cobertura equivocada pela imprensa gera preconceito, afirma especialista

Uma das conseqüências mais notadas na mídia com relação à gripe suína é a sensação de medo e a discriminação. Doutora e docente de Sociologia da USP, além de especialista em temas como desigualdade e distinção, Márcia Lima explica que toda situação de tensão, temor e risco (principalmente as envolvidas com epidemias) tende a exacerbar sentimentos como o preconceito.

“Existe a idéia de que a gripe surgiu em um lugar e pessoas que vivem no local são mais propensas a ter o vírus”, explica a professora. Márcia diz que todo o preconceito tem a ver com a idéia de estigma que identifique um grupo. “Estereotipar pessoas é quando se acha que determinado fato, característica ou comportamento sempre irá se repetir naquele grupo”, afirma ela. “Todo mexicano, com aparência de mexicano, será considerado suspeito de ter o vírus. Você identificar essencialmente o grupo faz com que todo mexicano corra o risco de ser associado àquela enfermidade”.

A mexicana Mariana Gomez, estudante de intercâmbio da USP, acha que o preconceito também é conseqüência de um alarde provocado pela mídia. Segundo sua família e amigos, de Colima, cidade localizada no sudoeste do país, não há ninguém doente e as pessoas estão vivendo normalmente. “Mas do jeito que eles (os noticiários) mostram, parece que o México todo está doente, que ninguém está saindo na rua. É muito exagero”, diz ela.

Para Mariana, os noticiários focam nas mortes e insistem no uso da máscara, quando, na verdade, ela não é tão importante na prevenção. “As pessoas estão olhando a televisão e, ao invés de verem alguma informação para ajudar a situação, só estão entrando em uma paranóia”.

Ela também comenta sobre episódios que podem comprometer as relações entre países. “Tudo isso causa problemas internacionais e brigas desnecessárias, o que pode gerar problemas sociais piores do que só a gripe”.

Segundo a socióloga o preconceito está intimamente ligado à ignorância. “Quando surge alguma coisa nova, você tem menos informação sobre aquilo. À medida que há menos informação, há mais preconceito”, explica. “Junto com a tendência que há de discriminar certos grupos surge o preconceito contra pessoas de uma mesma nação, de um mesmo comportamento sexual, de uma mesma cor. Em todo lugar do mundo é comum se tentar achar um grupo de risco”.

Professor de editoração da USP, Plínio Martins esteve há 15 dias nos estados do Texas e Califórnia, nos EUA, e diz não ter percebido nada de alarmante. “Aqui no Brasil as pessoas parecem mais preocupadas”, aponta.

Já o professor Ivan Teixeira ainda se encontra em Austin, no Texas, onde parece haver apenas suspeita da doença. “No Campus da Universidade do Texas, que é enorme, houve internamento de alguns alunos para observação”, conta Ivan.

Quanto à idéia de preconceito contra os mexicanos, o professor cita que a tendência é mais para solidariedade do que para a segregação na região. E algo que auxilia nesse modo de pensar é a população do estado. Segundo Ivan, “Mais de um terço da população de Austin é de origem latina, sobretudo mexicana”.