Condição de vigilantes é precária

Trabalhadores denunciam irregularidades no pagamento de horas extras e precarização das condições de trabalho dentro da USP
Sem bebedouros e locais adequados para refeições, vigilantes de guaritas têm de comer, escondidos, junto ao lixo e improvisar seu mínimo conforto (fotos: Vanessa Maeji, Tatiane Ribeiro)
Sem bebedouros e locais adequados para refeições, vigilantes de guaritas têm de comer, escondidos, junto ao lixo e improvisar seu mínimo conforto (fotos: Vanessa Maeji, Tatiane Ribeiro)

“Temos o mínimo de estrutura para trabalhar. Mas só o mínimo, mais nada”. Essa foi a declaração de Carlos*, vigilante de uma das portarias da Universidade, onde, explica ele, a limpeza é feita pelos próprios vigilantes. Isso ocorre também nas guaritas. “Se eu não limpo, fico na sujeira”, afirma Roberto*, responsável por uma das entradas de pedestres. Nas guaritas, não há água potável, as cadeiras estão em más condições e os funcionários terceirizados não possuem horário e local para almoço.

Pedro*, que trabalha em uma das guaritas, afirma que faz suas refeições de frente para o banheiro, escondido. Segundo explica, isso ocorre porque não há vigilantes suficientes para cobrir seu horário de almoço, os chamados “almocistas”. Augusto*, vigilante de guarita, diz que utiliza a copa dos departamentos próximos somente durante a semana, quando há almocistas. Aos finais de semana, ele se vê obrigado a almoçar atrás da guarita porque não há quem o substitua.

A própria estrutura das guaritas é alvo de reclamação dos vigilantes. O banheiro, onde eles colocam seus pertences, não possui armários e, em alguns, faltam prateleiras. A solução é improvisar: alguns vigilantes utilizam um bambu como cabideiro e colocam seus objetos pessoais em sacolas plásticas. Augusto relata que é comum aparecer aranhas nas roupas que ficam no banheiro. “Preciso chacoalhá-las todos os dias”, diz.

Extras

De acordo com alguns vigilantes, o pagamento de horas extras está irregular, principalmente na escala “quatro por dois” (quatro dias trabalhados por duas folgas), com 12 horas diárias. Devido a essas irregularidades, os funcionários se vêem obrigados a trabalhar no dia de descanso, a chamada folga trabalhada.

“Presencio com freqüência, no Instituto Oceaonográfico [IO], o funcionário terceirizado que está já está há 12 horas no serviço e precisa dobrar o turno porque um colega faltou ou foi realocado para outro posto”, afirma Valter Luis da Silva, funcionário do IO.

Edson José dos Santos, diretor do Sindicato dos Empregados em Empresas de Vigilância, Segurança e Similares do Estado de São Paulo (Seevissp), afirma que, em relação às horas extras, “temos hoje de oito a dez processos contra a Evik”, empresa responsável pela vigilância das portarias, guaritas e algumas unidades da USP. O JC ligou dez vezes para o diretor da empresa, João Palhuca, mas ele não fez declarações

Há casos de coordenadores de empresas de segurança atuantes na universidade que agrediram (verbal e fisicamente) seus funcionários. Os vigilantes que, de alguma forma, tentaram denunciar essas práticas, tiveram seus empregos ameaçados ou foram realocados. O diretor do Seevissp afirma que, em casos de remoção do funcionário para outro posto, não existe nenhuma forma de acionar judicialmente a empresa. Nos contratos, essa realocação está prevista.

Relação com a USP

Os vigilantes reclamam da falta de harmonia com a Guarda Universitária. Todos os vigilantes entrevistados disseram que existe perseguição por parte da Guarda. Alguns relatam, por exemplo, que mal podem se locomover no próprio posto. “Se eles [guardas universitários] querem que a gente fique aqui [desenha um quadrado no chão], a gente tem que ficar, mesmo que isso atrapalhe o trabalho”, afirma João*, que alega ter sido removido do seu posto por esse motivo.

Ronaldo Pena, diretor da Divisão Técnica de Operações e Vigilâncias da USP, nega que isso ocorra. “Creio que existe uma cobrança para que os serviços ocorram de forma adequada, nos padrões de qualidade que exigimos”, afirma ele.

Para Valter Luis da Silva, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), os servidores terceirizados não têm apoio da universidade para garantir seus direitos mínimos. Segundo ele, há uma segregação desses trabalhadores, que não recebem tratamento equivalente ao dos funcionários contratados diretamente pela USP. “Quando é funcionário direto, a gente vai e aciona a universidade e ela vai detectar essas condições precárias”, diz Silva, “já ele [funcionário terceirizado] tem de fazer uma reclamação para a unidade onde presta serviço e diz que não tem nada a ver com isso e é um problema com a empresa”. Procurada, a Reitoria não respondeu até o fechamento desta edição.

Exceção

A situação é diferente no Hospital Universitário (HU). As reclamações são levadas aos funcionários do hospital e, caso não sejam resolvidas, a própria administração encaminha-as para a empresa GSV, responsável pela segurança do local. Segundo Humberto*, funcionário da GSV, em outras empresas “eles [os vigilantes] vão falar com o supervisor ou inspetor, que não estão nem aí”.