Estoicismo e discussão, ou o caso dos 5 e-mails

No Jornal do Campus passado, tratei da solidão do ombudsman, bicho esquisito condenado a ruminar texto alheio. Tratei, não, reclamei. Disse que ninguém me escrevia. Escreveram. Cinco e-mails. Cinco. E com eles me vi envolvido no caso Stoa. Essa Stoa, para quem não sabe (todos devem saber, na USP) é “uma rede social formada por alunos, professores, funcionários e ex-membros” da universidade. A rede esteve no centro de uma polêmica uspiana e era disso que os e-mails tratavam.

O professor Ewout ter Haar, coordenador do projeto, criticou reportagem do JC tratando do tema, assinada por Tatiane Ribeiro. A repórter respondeu. O professor não gostou muito da resposta. Outro e-mail de Tatiane, outro e-mail de ter Haar. Um curso inteiro de jornalismo em cinco e-mails.

O imbróglio estóico não é coisa simples, diga-se. Um usuário, Everton Zanella Alvarenga, resolveu escrever um texto misturando primeiro de abril, universidade, reitora, governador e privatização. Houve quem achasse graça, mas houve quem não gostasse. Resultado: Alvarenga, out.

Os cinco e-mails põe em questão os limites do jornalismo hoje. Nos tempos antigos, havia duas verdades imutáveis: o tempo e o espaço. Jornalistas escreviam seus textos até determinada hora, a hora do “fechamento”, determinada pela necessidade de enviar o texto á impressão. E não havia muito espaço. Havia o espaço da página, e olhe lá. Tempo e espaço.

A web acabou com isso, e era disso que o professor tratava, no fundo. É verdade: ele pedia reparação, discordava de trecho da reportagem. Mas o ponto central era outro: o JC precisa virar 2.0. Aceitar comentários. Ampliar espaços de leitores. Superar ciclos de publicação.

Não há porque mantermos a determinação espacial e temporal da edição em papel em portais de jornalismo. O JC deveria poder admitir essa circulação. Vai dar trabalho, mas quem decidiu fazer jornalismo somos nós. O leitor merece essa atenção. Outros problemas surgirão daí.

Quanto à briga estóica, faltou estoicismo, talvez, mas como dizia o mesmo professor ter Haar, em uma apresentação realizada em outubro de 2008 (juntamente com Alvarenga, vejam só), “moderar” redes sociais é a questão central, ainda mais quando estas redes estão junto a instituições tradicionais (como é o caso). Quem deve ter esta incumbência: os participantes, instâncias superiores, ninguém, a polícia, o Estado?

Marco Chiaretti é editor-chefe do Estado Online.