Fumar passa de hábito charmoso a ilícito

Há cerca de trinta anos, fumar era um ato que transportava as pessoas ao universo das grandes produções cinematográficas. Segundo o mestrando do Instituto de Psicologia (IP) Marcelo da Cruz, “antigamente, o hábito de fumar era associado a qualidades positivas, como o charme, elegância e poder”. Porém, com a disseminação de informações sobre os males do cigarro, é possível perceber que a sociedade caminha em direção ao movimento antitabagista. Com isso, para a professora Maria Abigail de Souza, também do IP, “proibir as pessoas de fumar, em prol da preservação da saúde de outros, tende a ser uma mudança cultural”.

Para o professor de Relações Públicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) Luiz Alberto de Farias, com a extinção dos fumódromos, a lei levará os organizadores de eventos a certo reposicionamento. “Ainda que o fumo venha a cada dia ganhando inimigos e tornando-se um elemento indesejável, há certos tipos de ocasiões em que ele é visto de modo absolutamente natural e até desejável”, como é o caso das tabacarias, diz ele.

Segundo Abigail, a lei que proíbe o fumo não tende a afastar clientes dos bares, restaurantes e casas noturnas. Para ela, “as pessoas vão a esses lugares para confraternizar, encontrar os amigos, dançar, conversar e paquerar. É algo que vai além do ato de fumar”. Para ela, os dependentes se adaptarão à nova lei e continuarão a freqüentar os espaços. “A mesma coisa aconteceu quando se proibiu o fumo nos aviões, e mesmo assim, ninguém deixou de viajar por haver essa impossibilidade”, completa a professora.

Cruz discorda de Abigail Souza. Ele diz que a medida proibitiva “pode retirar os usuários de tabaco do convívio social. A lei tem um enfoque coletivo que visa proteger os não-fumantes, porém não propõe uma alternativa para aqueles que optaram pelo consumo ou que estão dependentes”. Ainda para Cruz, “é provável que pessoas mais gravemente viciadas em nicotina estabeleçam suas escolhas a partir da possibilidade do uso e da contenção de sintomas de abstinência”. Assim, ambientes que inviabilizem o uso podem ser evitados por pessoas nestas condições.

O cumprimento da lei

Para o professor da ECA, a implantação de algumas leis como esta deveria acontecer de forma gradual, mudando a forma cultural das pessoas encarem esses hábitos. Talvez por conta dessa mudança gradativa, determinadas leis sejam cumpridas à risca e outras, nem tanto. “O uso obrigatório do cinto de segurança, por exemplo, faz parte de nossos hábitos, já a Lei Seca, ainda está longe de prevalecer, mesmo com punições tão pesadas”, diz Farias.

Abigail defende que a nova lei, muito provavelmente, só será cumprida à medida que haja vigilância e punição por parte das autoridades. “Caso os estabelecimentos sejam fiscalizados somente por um período, as pessoas tenderão a voltar a fumar nesses locais, depois de uma diminuição no consumo”, conclui a psicóloga.