Rede Stoa não atende idéia de plataforma virtual livre

“Se soubesse que o Stoa é tão vulnerável, nunca teria participado”, diz Everton Alvarega

O Stoa, rede virtual social de estudantes, professores, funcionários e ex-membros da USP, teve um de seus co-criados afastado do projeto. Isso aconteceu no dia 16 de abril, após uma “brincadeira” de primeiro de abril. Everton Zanella Alvarenga, físico formado pela Universidade,  publicou em seu blog pessoal, no Stoa, uma matéria supostamente feita pelo site de notícias G1, da Globo.com. O problema é que não era uma simples brincadeira: em seu texto, ele afirmava que, em reunião, o governador José Serra e a reitora Suely Vilela decidiram privatizar a USP. Usando seus nomes e falas falsas, ele falava inclusive de uma manifestação de estudantes contra a medida.

Ao saber do caso, o diretor da Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI), o professor Gil da Costa Marques, responsável pelo Stoa, pediu, juntamente com o diretor do projeto, o professor Ewout ter Haar,  o afastamento de Alvarenga. Além disso, o físico deveria escrever uma retratação pública, em que ele fala que “não imaginava o desconforto que o texto causaria, mesmo tentando deixar claro, tão logo quanto possível, que não passava de uma brincadeira”.

Alvarenga foi autor também de outra situação controversa na rede. Em 2008, ele criou um bolão, como forma de protesto, sobre a data da greve na USP. O site UOL se interessou pelo assunto, publicando uma matéria a respeito no dia 27 de abril. Nela, ficava claro que já havia sido cotada a greve de funcionários para o dia 5 de maio e que o bolão era anterior a essa decisão. Mesmo assim, Costa Marques julgou que isso era mais uma inverdade, o que é passível de punição de acordo com os termos de uso da plataforma. “Se o Everton queria os cinco minutos de fama dele, ele conseguiu. Mas não às custas do Stoa, que é um site sério”, disse o professor.

A segunda punição dele foi sua exclusão do Stoa, tendo sido apagados todos os seus textos e comentários. O aviso veio cerca de 24 horas antes do ocorrido. De acordo com Alvarenga, ele só conseguiu recuperar seus textos porque utilizava um site que armazenava o conteúdo de sua página. Mesmo assim, não pode guardar todo o resto.

Vários usuários da plataforma reagiram à punição, e escreveram a respeito, citando também a Reitoria (que nega qualquer processo na Consultoria Jurídica). Alguns deles, como “Fepinheiros”, “Walrus” e Alexandre Hannud Abdo, tiveram postagens sobre o assunto também removidas. Para os usuários, isso foi uma forma de censura, uma “canetada” da Reitoria. Mas Costa Marques é enfático ao dizer que é o único responsável por todas as exclusões é ele. “Quando alguém cita a Reitoria, que não estava envolvida no caso, isso é inverdade”.

Alvarenga foi excluído da rede virtual de relacionamentos da USP por suas postagens polêmicas e brincadeiras (foto: Everton Alvarenga/Arquivo pessoal)
Alvarenga foi excluído da rede virtual de relacionamentos da USP por suas postagens polêmicas e brincadeiras (foto: Everton Alvarenga/Arquivo pessoal)
Web 2.0 institucional

De acordo com o professor Haar, o Stoa surgiu como uma tentativa de utilizar todas as possibilidade provenientes da web 2.0 dentro da Universidade. Assim, blogs, wikis e fóruns serviriam para um contato acadêmicos entre os usuários, com pouca ou nenhuma moderação.

“Esse foi o nosso primeiro erro, achar que seria possível dar toda essa liberdade para os usuários em um espaço institucional”. Depois do incidente com Alvarenga, a equipe passou a moderar mais de perto todas as postagens. Para Alvarenga, a liberdade dada aos usuários é exatamente o que permite a troca acadêmica e o que houve, na verdade, foi pressão direta da Reitoria (mesmo que não da reitora Vilela) para que ele fosse punido.

Quando questionado sobre a Universidade estar pronta para a utilização dos recursos do Stoa , Haar disse que ainda acredita que sim. Mesmo assim, acha que a rede vai sofrer alterações. Entre elas, os textos dos usuários não poderão mais aparecer na página inicial do site, como feito anteriormente.