Revoltados, alunos da FAU derrubam tapumes de reforma

Manifestação de grupo de estudantes pode acarretar até mesmo a expulsão de alguns

Estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) derrubaram os tapumes que estavam sendo usados na reforma de parte do terceiro andar do prédio, onde estão sendo construídas novas salas. A atitude foi tomada depois de uma assembléia realizada na terça-feira (19 de maio), em protesto à decisão da Congregação da FAU, que decidiu continuar com as polêmicas obras no edifício, tombado pelo Estado em 1981.

A derrubada dos tapumes dividiu opiniõer por toda a FAU; diretoria afirmou que vai procurar e punir os autores (foto: Divulgação)
A derrubada dos tapumes dividiu opiniõer por toda a FAU; diretoria afirmou que vai procurar e punir os autores (foto: Divulgação)

Foram feitos boletins de ocorrência pela Guarda Universitária e pela Polícia Civil, e a Comissão de Justiça da USP está investigando o caso. Em reunião realizada na quarta-feira (20 de maio), a diretoria da unidade decidiu punir os autores da derrubada. Os alunos que forem identificados como culpados podem sofrer conseqüências jurídicas graves, cabendo até mesmo a expulsão da Universidade. Em comunicado, o diretor da unidade, Sylvio Barros Sawaya, classificou as atitudes dos estudantes como “uma ofensa e uma agressão às decisões do órgão máximo de governo da FAU, a Congregação, que, em duas sessões abertas decidiu pela continuidade das obras já licitadas e pela consideração das demais propostas”.

A FAU tem sido palco de um grande conflito de opiniões entre alunos, professores e a diretoria da unidade quanto à reforma do edifício projetado pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, em 1961. Tudo começou quando a diretoria da unidade apresentou seis projetos de reformas no prédio (em um documento que mostrava os autores e os custos da obra) para a Reitoria, que liberou a verba para os procedimentos. Os desenhos foram feitos por arquitetos de renome e também pelo diretor da unidade.

Os estudantes ficaram surpresos quando as reformas começaram, com uma obra no jardim, sem serem discutidos antecipadamente e sem aprovação da Congregação. Afirmaram que essa atitude era ilegal, pois a diretoria estaria passando por cima do órgão. Teve início um grande debate em torno de como as reformas, consideradas necessárias em virtude das deficiências do prédio, deveriam ser feitas. Os estudantes pediram que fosse organizada uma Congregação aberta, para decidir se as reformas deveriam continuar. Depois que foi deliberado que elas teriam prosseguimento, os estudantes protestaram derrubando os tapumes, como forma de paralisar o andamento das obras.

Boletins de ocorrência foram feitos pela Guarda Universitária e pela Polícia Civil; Comissão de Justiça da USP está avaliando o caso (foto: Divulgação)
Boletins de ocorrência foram feitos pela Guarda Universitária e pela Polícia Civil; Comissão de Justiça da USP está avaliando o caso (foto: Divulgação)

As opiniões na FAU, no entanto, são divergentes.Uma aluna do segundo ano de Arquitetura, que preferiu não se identificar, disse que “a retirada dos tapumes foi um ato legítimo e decidido em assembléia, que é o órgão máximo deliberativo dos estudantes”. Perguntada sobre os motivos dos estudantes não quererem a continuidade das obras, ela afirmou que “as reformas não foram aprovadas nos órgãos de tombamento” e que as intervenções no terceiro andar (local onde estavam os tapumes) não respeitam o projeto original de Artigas.

O professor Milton Braga, da FAU, confirmou os problemas no projeto para o terceiro andar: “É absurdo, completamente equivocado. Ele foi qualificado na Congregação Aberta como ‘manutenção’, o que é uma afronta ao bom senso”. Ele explicou que estão projetados diversos ambientes individuais de trabalho, o que vai contra a “o princípio original do projeto de privilegiar o trabalho coletivo”. Braga afirmou que é dever da FAU manter o prédio em boas condições para todos que o freqüentam, mas que espera que os projetos que desrespeitam a idéia de Artigas não sejam aprovados. Quanto à derrubada dos tapumes, o professor classificou a atitude do grupo de alunos como um erro: “Não é assim que se faz uma manifestação de discordância sobre como o processo das reformas vem sendo conduzido. Dentro da FAU, agora, a comunicação vai ficar bem mais difícil”.

O diretor da FAU, Sylvio Barros Sawaya (de bengala), assistiu à derrubada dos tapumes e decidiu tomar providência legais (foto: Divulgação)
O diretor da FAU, Sylvio Barros Sawaya (de bengala), assistiu à derrubada dos tapumes e decidiu tomar providência legais (foto: Divulgação)

Tal opinião é partilhada por alguns alunos. A aluna do segundo ano de Arquitetura Natasha Woiski Miranda, por exemplo, afirmou que a derrubada dos tapumes foi “totalmente irracional” e “um passo para trás”. Outro aluno de Arquitetura, que preferiu não se identificar, disse que a manifestação não foi unívoca e foi feita sem o consentimento de todos os estudantes. Ele também afirmou que as negociações sobre as reformas ficarão ainda mais difíceis. Uma aluna que também não quis se identificar, porém, afirmou que a maioria dos estudantes não comparece às assembléias e, portanto, abdicam do seu direito de representação. “Se eles eram contra, tinha que ter ido à assembléia e se posicionado dessa forma”, finalizou.

Biblioteca repudia atitude e alunos respondem

A biblioteca da FAU amanheceu fechada na quarta-feira (20 de maio). A atitude foi tomada pelo Conselho do local, em repúdio à derrubada dos tapumes por um grupo de estudantes. A seção de alunos e os departamentos também fecharam.

Os estudantes responderam com um comunicado, no qual afirmavam que a retirada das paredes de madeira havia sido “uma manifestação legítima dos alunos contra as decisões autoritárias da Congregação”. No documento também estava escrito que “todo o processo político recente e referente às reformas teve início somente com a denúncia de um estudante enquanto a comunidade docente fazia vista grossa com alguns sendo favorecidos ora com a oferta de saletas ora com a autoria de um projeto” e também que “o desmonte do pano de madeirite é a manifestação dos alunos contra o processo no qual não têm participação nas decisões”.

Uma estudante que não quis se identificar também discordou da atitude da biblioteca. “Eles repudiaram a atitude dos estudantes. Mas quando as reformas começaram sem aprovação, como no caso dos jardins, eles não repudiaram. Não entendo essa atitude”.