Tradições cruspianas continuam vivas

Conhecido também como Cohab dos intelectuais, o Crusp abriga hoje estudantes de toda USP, formando uma comunidade plural, com moradores de diferentes etnias, credos e visões políticas, às vezes conflitantes, que acabam interferindo no convívio social, pois nem sempre é oferecida ao morador a opção de escolher seu companheiro de quarto. Porém, mesmo com suas divergências, os habitantes do conjunto tem hábitos e enfrentam dificuldades comuns entre si.

O cruspiano tem como principal fonte de nutrição as refeições do Bandejão Central, constantemente alvo de brincadeiras por parte dos estudantes, pela proximidade e pelo preço mais que acessível. Entretanto, com a recente declaração de greve pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), os moradores do conjunto estão tendo que arrumar formas alternativas para se alimentar, nem sempre saudáveis. Bruno Martins, estudante do 1º ano de Geografia, conta que tem de recorrer ao “pastel e o miojo”, únicas opções de que dispõe. Outros, porém dão seu jeito, como o aluno do 3º ano de Geografia, Fabiano Felix, que recorre ao “amigo vegetariano que cozinha bem e fica encarregado de fazer a comida, enquanto os outros ficam responsáveis pela louça”.

A vida no Crusp também tem suas peculiaridades. Uma delas são os gritos, já folclóricos, de “canalha!”, que podem ser escutados aleatoriamente na região. Contudo, as origens reais do brado permanecem obscuras, o que não o impediu de se tornar uma tradição cruspiana, assim como os berros pouco delicados disparados principalmente às quartas e aos domingos, quando ocorrem os jogos de futebol. Felix acha engraçada a gritaria do Crusp e confessa que já participou dela algumas poucas vezes, mas nem todos aprovam. “Um dos pontos fracos do Crusp é a gritaria em dias de jogo”, diz Giselle Reis, estudante do 1º ano de Música.

Prós e contras

O uspiano que consegue a bolsa moradia vê como principal ponto positivo de sua nova residência, além da gratuidade, a facilidade de acesso às unidades da USP, que propicia maior liberdade ao estudante. “Eu posso sair da minha aula à noite e vir para cá em segurança”, afirma Maria Carolina Gonçalves, estudante do 1º ano de Jornalismo, hospedada desde fevereiro no Crusp. Além disso, a proximidade de lugares como o Bandejão Central, o Cepeusp e o Cruspão também configuram um fator favorável para os moradores.

Há também os pontos fracos da moradia. A infraestrutura, por vezes precária, o pequeno número de apartamentos e a superlotação dos alojamentos, que acarreta uma baixa privacidade incomoda os bolsistas. Outro fator negativo apontado por alguns cruspianos é a ilegalidade de alguns moradores que “já não estudam mais na USP e ainda ocupam as vagas de alunos que precisam do serviço”, protesta um morador que preferiu não ser identificado.