Alunos questionam modelo de assembléia adotado pelo DCE

Um grupo de alunos insatisfeito com o modelo de decisão do Diretório Central de Estudantes (DCE) durante a greve está se organizando para propor formas alternativas de participação e questionar a hegemonia de grupos da esquerda nas assembléias. É a “Comissão de Defesa dos Interesses Estudantis (CDIE), que tem entre seus integrantes alunos da FFLCH, Poli, Matemática, Medicina e Direito, entre outras unidades.

O último encontro reuniu 215 pessoas e há lista de apoio ao movimento com 5.800 assinaturas, segundo Rodrigo Souza Neves, estudante de História e um dos fundadores da comissão. Entre as propostas da CDIE, está a exigência de um quorum mínimo maior e realizar as votações separadamente, com plebiscitos na Internet ou urnas nas faculdades.

“Freqüentar uma assembléia do DCE é difícil para quem trabalha. São pessoas que estão inteiradas, mas não podem participar. E se forem serão confrontadas pelo clima de desrespeito e intolerância”, diz. Para ele, falta democracia e diálogo e há um clima intimidatório contra as pessoas que não querem a greve.

O CDIE defende as assembléias como instrumento de debate e definição de encaminhamentos, mas quer a votação em outra instância. Rodrigo elogiou, por exemplo, o recente plebiscito sobre a greve organizado pelo site greveusp.dnsalias.com, que foi parar no blog do conservador Reinaldo Azevedo. Na noite desta quarta-feira, 17, o site contava 5,3 mil votos, dos quais 80% eram contra a greve e 55% favoráveis à permanência da Polícia Militar no campus.

A comissão, segundo Rodrigo, não tem opinião formada sobre a estrutura de poder na USP e considera justificada a atividade da polícia no campus. “Os policiais têm direito de se defender quando atacados, assim como a reitoria”, disse, ressalvando que os dois lados do confronto ocorrido na última semana se excederam.

Kraly Machado, estudante de Letras e integrante do DCE, reconhece que parte dos estudantes hostiliza colegas com opiniões divergentes, mas argumenta que se eles fossem uma maioria não seriam intimidados. “Eles são hostilizados porque não têm argumentos contra, apenas dizem que querem se formar e usam um discurso de senso comum”, afirma.

O DCE, segundo a estudante, garante que pessoas contra a greve tenham tempo de fala, mas nem sempre é possível conter a intimidação. “Quando começam a vaiar tentamos acalmar a assembléia, mas não temos como conter todo mundo”, diz.

Para ela, os quoruns baixos se devem à “descrença das pessoas com questões políticas e da sociedade como um todo”. Porém Kraly nega que as assembléias importantes sejam esvaziadas – a entidade divulga que na última relacionada à greve havia cerca de mil alunos. “A assembléia é o fórum mais democrático que existe, é aberta a todos e todos votam. As pessoas que não vão à assembléia estão se abstendo de estar lá e votar”, argumenta.