Manifestação termina em confronto

Bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha foram utilizadas contra estudantes, professores e funcionários no campus da USP
Soldado da Força Tática atira em manifestantes. O confronto foi iniciado após ato em frente ao Portão principal da USP, que pedia a retomada das negociações com a reitoria e o fi m da presença da PM no campus (foto: Guilherme Minotti)
Soldado da Força Tática atira em manifestantes. O confronto foi iniciado após ato em frente ao Portão principal da USP, que pedia a retomada das negociações com a reitoria e o fi m da presença da PM no campus (foto: Guilherme Minotti)

Uma manifestação de estudantes e funcionários na última terça feira dia 09 terminou em confusão e confronto com a polícia militar dentro do campus. O enfrentamento aconteceu pouco depois das 17 horas, no final de um ato pacífico em frente ao portão 1 da Cidade Uuniversitária.

Os manifestantes estavam voltando para o prédio da reitoria, onde aconteceria uma assembléia de estudantes às 18 horas. No caminho, eles passaram por cinco policiais que estavam fazendo a guarda em frente ao Paço das Artes. Aos gritos de “Fora PM!”, a multidão se aproximou dos oficiais, exigindo sua retirada do campus. Acuados, os policiais pediram reforço e, em pouco tempo, vieram algumas e viaturas da Força Tática, que usaram bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar o tumulto.

Para o tenente-coronel Cláudio Miguel Longo, um dos responsáveis pela operação, a responsabilidade pelo conflito foi da multidão, que cercou os policiais. “A tropa teve que vir em socorro”, defende.

A Força Tática continuou empurrando os manifestantes com bombas e tiros por toda a Avenida da Universidade e pela praça da reitoria, enquanto estes tentavam revidavar com pedras e outros objetos. Uma tentativa de barricada foi feita em frente ao prédio da Reitoria, mas não resistiu ao avanço do bombardeio e da coluna de policiais com escudos. A multidão, por fim, correu para o estacionamento do prédio da História e Geografia, onde também foi bombardeada.

Naquele momento, ocorria no mesmo prédio uma reunião da Adusp – Associação de docentes da USP. A reunião foi interrompida e uma comissão de professores desceu para tentar negociar com o coronel Longo. Segundo o professor e diretor da Adusp, Marcos Magalhães, que participava do grupo, no meio da confusão, uma das bombas acabou batendo num muro de concreto e explodindo ao lado da negociação.

Os homens da Força Tática caminharam até o fim da Rua do Anfiteatro e pararam,  guardando o prédio da Reitoria. Os estudantes que estavam na História e Geografia decidiram fazer a assembléia em uma das pistas da Av. Prof. Luciano Gualberto. O ambiente aos poucos se acalmou.

Feridos

Embora o Hospital Universitário (HU) informe que, até as 23 horas só tenha atendido duas pessoas vindas da manifestação, houve diversos relatos de pessoas atingidas por cacetetes e estilhaços das bombas. A imprensa que estava cobrindo o conflito também foi alvo da PM. O fotógrafo Danilo Verpa, da Folha de São Paulo, afirma ter sido agredido ao fotografar um manifestante apanhando de dois policiais. Um terceiro surgiu por trás e o acertou no ombro direito com um cacetete. “Ele viu que eu estava com equipamento, viu que eu estava com o crachá da Folha e mesmo assim veio pra cima de mim”. Em meio a confusão, também foram presos um estudante e dois funcionários, entre eles, Claudionor Brandão, diretor do Sintusp e uma das bandeiras da greve dos funcionários, que exigem sua readmissão. Os três foram levados para o 93º DP e indiciados por depredar patrimônio publico – no caso, escudos e viaturas – desacato e resistência à prisão. Eles assinaram um termo circunstaciado – espécie de boletim de ocorrência para infrações de menor potencial ofensivo, que são encaminhados diretamente ao juizado de Pequenas Causas, e foram liberados na mesma noite para fazer exame de corpo de delito.

Ao ser questionado sobre o por quê da polícia ter continuado a empurrar os estudantes até a História e Geografia, e não se limitado a “assegurar” os policiais que foram cercados, o Capitão Marcelo Gonzalez Marques, responsável pela operação, se limitou a dizer que “o deslocamento foi necessário para normalizar a situação”.

Estudantes, professores e funcionários que se manifestavam no Fórum das Seis são acuados pela Polícia Militar (foto: Marcelo Osakabe)
Estudantes, professores e funcionários que se manifestavam no Fórum das Seis são acuados pela Polícia Militar (foto: Marcelo Osakabe)
Reunião

Enquanto os estudantes realizavam uma assembléia no meio da avenida, os deputados estaduais Carlos Giannazi e Raul Marcelo, que estavam no local, conseguiram intermediar uma reunião do vice-reitor, Franco Maria Lajolo, com representantes das três categorias, para discutir o que havia acontecido naquele dia. Os funcionários se negaram prontamente a participar dessa negociação. Ao todo, entraram cinco professores e três estudantes. Segundo os integrantes dessa comissão de negociação, o vice-reitor se comprometeu a retirar imediatamente as tropas de dentro do campus, deixando apenas um expediente de duas viaturas da PM para guardar o prédio. A Força Tática só voltaria em caso de nova manifestação violenta.

Não foi isso o que ocorreu. Pelo menos nove viaturas da Força Tática continuaram rondando a reitoria durante o resto da noite. Segundo o Capitão de Nicolo, que também estava guardando o prédio, naquela noite ainda iriam ficar cerca de 20 homens dentro do local. Para Marcos Magalhães, que também participou da reunião, “essa é a palavra do vice-reitor, que demonstrou que a reitoria não estava no comando”. O vice-reitor não quis dar declarações.