Para especialista, partidos ampliam política estudantil

Quem vai às assembléias gerais dos estudantes da USP já deve ter notado a forte atuação de partidos políticos. PSTU, PSOL, PT, PCO, esses são alguns dos nomes de maior projeção nacional que podem ser vistos atuando na Universidade. Dentro da USP, não é difícil ouvir críticas a essas organizações políticas. Como opina Carlos Menegozzo, pesquisador do movimento estudantil e arquivista, “na USP há uma espécie de reação anárquica de grupos que se contrapõem aos movimentos partidarizados”.

Apesar da rejeição por uma parcela considerável dos estudantes, a universidade continua sendo um ponto significativo para a estrutura partidária. Para a estudante de Letras Natália Costa, militante do (Partido da Causa Operária) PCO, o que chama de “campanha pelo apartidarismo” não faz sentido pois “as reivindicações dos estudantes são fundamentalmente políticas e as organizações políticas são a única forma de se mobilizar”.

Menegozzo pensa que a crítica à partidarização é uma das formas encontradas para explicar a “crise” de desmobilização que se instalou desde o fim da ditadura, quando deixou de existir uma pauta que unificasse a mobilização dos vários setores do movimento estudantil. “Se analisarmos, essa crítica não explica toda a questão. O movimento nunca foi tão partidarizado nem tão forte quanto nos anos 60”. Para ele, a partidarização pode trazer à universidade uma reflexão que entende a sociedade de uma forma integrada.

A estudante de fonoaudiologia Débora Manzano, militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), concorda: “o movimento estudantil é importante na luta pela educação, que é importante para toda a sociedade. Entre os estudantes encontramos pessoas dispostas ao debate e que muitas vezes se identificam com o partido”. Vinícius da Cunha, estudante de História que milita pelo Partido Socialismo Liberdade (PSOL), complementa que há “muitas pessoas que entram na vida política através do movimento estudantil, aqueles que militam aqui geralmente têm uma vida política depois da universidade”.

Na opinião de Menegozzo, uma explicação mais precisa para a crise do movimento estudantil é o esvaziamento sistemático da vivência dentro da universidade. “Você tem em 68 uma reforma universitária que traz a fragmentação. Os cursos se tornam cursos técnicos voltados para formar para o mercado e pronto. Surgem os feudos departamentos isolados, em que as pessoas não se comunicam, não se encontram, não têm um espaço de convivência comum, os movimentos nos cursos se isolam”. Dessa forma, a mobilização estudantil acabaria convergindo apenas pontualmente, quando há uma pautas como o “Fora Collor” ou mesmo a ditadura, que apelam aos diferentes grupos.

Um grupo que tem crescido dentro e fora da USP, e que atualmente luta para se tornar um partido político, é o Movimento Negação da Negação (MNN). Rodrigo Brancher, presidente Nacional do MNN e estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) diz que ao se partidarizar, o MNN não teme se tornar alvo de rejeição, pois “o ódio aos partidos não é natural, é algo construído historicamente pelas traições, e que deve ser desconstruído por um partido que se atenha a seu programa”.

O estudante cita Trotski para quem “o movimento estudantil, pelo caráter desprendido da juventude, antecipa as contradições das lutas de classe e se coloca primeiro na luta”. Brancher concorda que a partidarização amplia a atuação de um grupo político: “é uma questão de compromisso, de construir uma perspectiva de revolução socialista no país e no mundo”.