Inspirada em Beckett, peça discute o descartável e o transitório no cotidiano

Peça discute o descartável na sociedade contemporânea (foto: Divulgação)
Peça discute o descartável na sociedade contemporânea (foto: Divulgação)

Em cartaz no Centro de Preservação Cultural (CPC) até 18 de julho, (Des)esperando não é apenas uma peça. É um espetáculo que, intencionalmente ou não, surgiu e integra o tripé no qual se baseia a USP: ensino, pesquisa e extensão. A produção surgiu a partir de aulas, encontrou sustentação nas pesquisas do diretor e da atriz e agora tem se estendido para além da USP em apresentações em bibliotecas, centros culturais, festivais e cidades como Piracicaba e Bauru.

O professor do Departamento de Artes Cênicas (CAC) da ECA e diretor da peça Felisberto Costa conta como surgiu a idéia. “Alunos e atores da peça, em uma disciplina na Faculdade de Educação (FE), entraram em contato com uma série de textos que os fizeram refletir sobre o descartável na sociedade contemporânea”, conta. “Na disciplina que ministro no CAC, começamos a desenvolver essa discussão: tudo que você compra logo depois já tem outro mais moderno. E também o próprio corpo, o próprio ser humano se torna descartável”, completa.

O espetáculo é inspirado na situação instaurada por Beckett em Esperando Godot. Duas pessoas descoladas da sociedade vivem na transitoriedade de uma estrada. Diferentemente da peça na qaul foi inspirada, já não vivem da espera, seguros de que por aqueles caminhos Godot não passará. Resta-lhes tentar construir alguma trajetória que faça “sentido” em contraponto à desolação do espaço em que vivem. Passam o tempo “jogando” com objetos – dejetos das metrópoles contemporâneas. Animá-los, jogar com eles em diversos sentidos é, ao mesmo tempo, brinquedo e sobrevivência.

Essa ligação com o espaço surgiu através da pesquisa do professor Costa. “Trabalhava um outro livro que fala dessa questão da transitoriedade, do não-lugar. Lugares como salas de espera, aeroportos, supermercados, rodovias são cada vez mais presentes na nossa vida e as relações acabam se construindo nesses espaços bem fluidos”, explica.

Não só a pesquisa do grupo ajudou a criar o espetáculo, mas ele também interferiu na pesquisa, como exemplifica a atriz e pesquisadora Roberta Carbone. “Na pesquisa de iniciação científica, o espetáculo foi meu referencial concreto de diálogo para o estudo da dramaturgia cênica”. Para ela, este estudo não se limita à literatura dramática, “é a algo que está em constante diálogo com a prática e se constrói a partir de todas as vozes que ocupam o espaço cênico: o corpo ator, o espaço, a sonoplastia, a iluminação, os objetos, o público e a palavra”, conclui.

Peça (Des)esperando
Quando: sábados, às 20h, até 18 de julho
Onde: Centro de Preservação Cultural – R. Major Diogo, 353, Bela Vista, São Paulo, SP
Tel.: (11) 3106-3562