Mudança de plataforma, mudança de paradigma

Há alguns dias, recebi a edição passada do Jornal do Campus, edição especial dedicada aos acontecimentos que agitaram a Universidade de São Paulo há duas semanas. O confronto entre a polícia de um lado e estudantes e funcionários do outro recebeu, em minha opinião, tratamento correto no jornal. Ficou como sempre aquela impressão de que o intervalo foi longo, longo demais, mas talvez eu esteja exagerando este ponto. Ainda mais quando, na própria primeira página, o jornal avisa seus leitores de que a próxima (esta) edição seria publicada somente online.

Talvez estejamos assistindo um processo irreversível de mudança de plataforma de publicação, com todos as conseqüências que têm sido citadas nos debates a respeito do assunto. Muito mais do que os grandes jornais, as grandes empresas de comunicação, o JC tem uma enorme chance de realizar a transição. Seria importantíssimo que os leitores se manifestassem.

A edição em si me pareceu equlibrada. Gostei especialmente da foto aberta na primeira página. Discordei do formato adotado em alguns jornais, que privilegiaram aspectos digamos “cenográficos” do confronto, transformando a universidade em “palco de guerra”. Guerra é guerra; o que houve foi um conflito entre policiais e estudantes. Resistir a tentação romântica é algo que considero importante. Pareceu-me que já a partir da capa, o JC resistiu.

Para outros jornalistas (normalmente instalados em redes de TV populares), a oposição se dava entre as “forças da ordem” e os “arautos do caos, arruaceiros e baderneiros”. Não preciso dizer como me parece perniciosa essa forma de leitura de um acontecimento complexo como aquele. O jornal fugiu disso, ao escolher uma edição completa sobre o assunto. Ainda acho que seria preciso mais análise: por que afinal, chegou-se, além do discurso das partes, a esta situação? Mas acredito que o JC chegou mais perto disso do que pude ler nas últimas edições.

Fica a questão, central, de definir uma temporalidade de edição e publicação mais curta do que aquela obrigada pelas condições de edição e publicação em papel. Não há razão para adiar por duas semanas a edição de um jornal online.

Marco Chiaretti é jornalista, com mais de 10 anos de experiência em publicações online. Fale com o ombudsman.