Abrem-se as cortinas

Abrem-se as cortinas (arte: Lucas Tófoli Lopes)

“Todos os seres humanos são atores – porque atuam – e espectadores – porque observam”. A frase de Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, sintetiza bem o que seria o espírito do teatro universitário: teatro por todos e para todos. Reunindo alunos de diferentes cursos e pessoas de fora da universidade, os grupos teatrais amadores da USP produzem resultados surpreendentes que, ainda assim, são pouco conhecidos.

“O teatro é um instrumento de expressão. É do ser humano. Todo mundo deveria ter acesso a esse tipo de linguagem”, diz Eduardo Coutinho, professor do Departamento de Artes Cênicas da ECA. Formado engenheiro civil, Coutinho afirma que o teatro é essencial. “Eu tenho batalhado para que todos os alunos da USP ‘tropecem’ em arte para que eles percebam, seja através da vivência de fazer, seja como expectador, que isso é uma parte importante de sua formação universitária”.

“Os estudantes têm uma força desprovida de preconceito e estrelismo”, diz Maurício Soares Filho, coordenador do grupo Vivo e Desnudo da Faculdade de Direito. Segundo ele, é essa dose de descompromisso em relação ao trabalho ser bem sucedido ou não que torna o teatro dos estudantes tão interessante. “Não há pretensão. Só a certeza de que todos têm 100% de boa intenção em contar uma história”, conclui.

Por serem muitos e, em grande parte, desconhecidos, o Teatro da USP (TUSP) realiza nesse momento um trabalho de mapeamento dos grupos de teatro da universidade. “Nosso objetivo é fomentar essa atividade teatral”, afirma a professora Elisabete Dorgam Martins, vice-diretora do TUSP. “Agora estamos trabalhando com orientadores de arte dramática espalhados pelos campi, para descobrir as reais necessidades desses grupos”. Em relação à escassez de público, Elisabete afirma que se trata de fenômeno não-restrito ao teatro universitário. “Tem sido uma luta corpo a corpo para conseguir divulgar os trabalhos e trazer público para o teatro”, conclui.

Dificuldades

As principais dificuldades enfrentadas pelos grupos são o financiamento e a falta de espaço para suas atividades. O GTP é um dos poucos que possui uma sala própria, além de receber repasse do Grêmio Politécnico. O grupo Vivo e Desnudo, por exemplo, ensaia provisoriamente na Casa do Estudante e recebe uma pequena ajuda de custo do centro acadêmico XI de Agosto. O grupo Metáxis, que desenvolve técnicas de Teatro do Oprimido, utiliza uma sala do Departamento de Artes Cênicas (CAC) da ECA, sob responsabilidade de seu coordenador, Dodi Leal, aluno do terceiro ano do CAC. “Coloco o grupo como meu projeto pessoal”, declara.