Cuidado, isso pode ser uma obra de arte

“Com licença, a senhorita não pode se sentar aí. É uma obra de arte”, sentencia a funcionária do MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea) à estudante desavisada. A obra em questão (“Sem Título”, de autoria de Márcia Pastore) é uma bloco de asfalto circundado por ferro, assimétrico. É bem diferente das outras esculturas ao seu redor, por ser mais baixo e plano. Ele contrasta também com a vegetação circundante, e talvez seja bastante convidativa para o repouso de quem passa por perto – assim, pelo menos, pensou a estudante.

“As obras externas estão em exposição, muitas vezes, para a interação com o público”, afirma Sérgio Miranda, assessor de imprensa do MAC. Isso pode acontecer de maneiras inusitadas, como no período de ocupação da Reitoria em 2007. “Naquela obra ali em frente (ao MAC) alguém fez uma intervenção com barbantes. A gente deixou e retiramos quando terminou a ocupação”, diz Sérgio. No entanto, algumas interações com as obras se dão de formas indevidas. Elas vão desde dependurar-se na escultura até utilizá-la como cesto de latinhas. E, em casos extremos, há as pichações.

A interação é marcada, sobretudo, pela dúvida. As obras localizadas no jardim do MAC possuem placas com o título, autor e data. Essas informações podem não satisfazer quem as admira, mas entra aí uma questão fundamental da arte: ela deve ser explicada? Deve ter intencionalidade?

Quem passa pelas diferentes obras de arte da USP talvez tente satisfazer sua curiosidade de entendê-las, ou pelo menos saber mais sobre elas. Mas no lugar de placas informativas encontrará, muitas vezes, sujeira e pichações.

Quando alguém se depara com esse tipo de situação, logo vem a questão: “Quem é que cuida disso aqui?”. Segundo Maria Lúcia Bressan Pinheiro, professora da FAU e diretora do Centro de Preservação Cultural da USP (CPC), cada faculdade responde por seus monumentos. “Nossa contribuição para a preservação física das esculturas é a indicação de medidas, que podem ser tomadas após a consulta de especialistas. Nós não temos verba para aplicar em conservação, temos orçamento para manter o órgão”.

Aliás, em teoria, toda instalação ou remoção de obras de arte na USP, diz Maria Bressan, deveria passar pelo CPC para atualização do banco de dados. Mas isso não ocorre. Ainda assim, é do órgão a fonte mais completa sobre a história dos monumentos: o livro “Obras Escultóricas em Espaços Externos da USP” (Edusp), utilizado como pesquisa para esta matéria.

Da interação à depredação, da curiosidade à falta de informação. O Jornal do Campus foi atrás da história das esculturas da USP, para satisfazer a curiosidade de quem viu uma obra de relance e não pôde procurar informação. Buscou por ela, mas não conseguiu achar as placas. Encontrou algumas, mas ainda não está satisfeito.