Debate: O Enade é eficiente como forma de avaliação da USP?

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SIM – Prova identifica rumos da educação – por Sonia Penin
NÃO – Exame é incompleto para avaliar a USP – por Wanderley Messias


SIM – Prova identifica rumos da educação

por Sonia Penin

Diante dos parcos resultados educacionais existentes no país, tenho como pressuposto que a avaliação pode ajudar na identificação de problemas e contribuir na proposição de políticas públicas que possam encaminhar mudanças no quadro geral e em situações específicas, assegurando a qualidade desejada nos diferentes níveis de ensino. No caso da educação superior, as avaliações podem identificar caminhos de expansão da democratização do acesso e da melhoria da qualificação dos estudantes, assim como promover políticas públicas de revalorização da educação superior, como parte de um projeto de desenvolvimento da nação brasileira.

A Constituição de 1988 e a legislação que a seguiu, especialmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996, estabeleceram os marcos da avaliação da aprendizagem de alunos em todos os níveis de ensino e, no caso do ensino superior, dos cursos e instituições. O Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) é parte do Sinaes – Sistema Nacional de Avaliação de Educação Superior, que avalia, além do desempenho dos estudantes, as instituições e os cursos. É tarefa do Sinaes, especialmente através de sua coordenação, a Conaes (Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior), exercer uma crítica sistemática não somente quanto aos resultados obtidos, como também sobre os próprios instrumentos e processo dos quais se utiliza de modo a acompanhar o movimento de mudanças do cenário nacional e mundial. Avaliação na educação tem o sentido de um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, possibilitando tomadas de decisão em direção à sua melhoria.

No cenário educacional brasileiro há necessidade de que os dados macros das avaliações externas, existentes em todos os níveis, sejam apropriados pelos profissionais da educação em cada situação concreta de trabalho e incorporados em seus planejamentos e ações. O ensinar não é uma tarefa solitária, mas coletiva, ocorrendo num espaço de relações pessoais e numa instituição que possui uma função social bem determinada; planejamento e avaliação caminham juntos.

Há que se lembrar que, tendo em vista o regime federativo brasileiro e, assim, o dever de os Estados também atuarem sobre o ensino superior, urge que ambas as instâncias – a federal e a estadual, assim como as instituições que detêm autonomia, como as universidades – articulem-se de maneira a mais competente possível, não desperdiçando ou duplicando verbas públicas e principalmente colaborando de maneira efetiva para a melhoria – aumento e qualidade – do encaminhamento do jovem brasileiro ao ensino superior, com justiça e equidade social.

Sonia Penin é diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP) e membro da Conaes.
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NÃO – Exame é incompleto para avaliar a USP

por Wanderley Messias

Muito se discute atualmente sobre os métodos de avaliação dos cursos e dos formandos das universidades brasileiras, bem como as novas propostas para o ingresso ao ensino superior.

A polêmica decisão da Universidade de São Paulo (USP), que juntamente com a Universidade de Campinas (Unicamp) se absteve do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), dividiu o corpo docente. Eu, particularmente me posiciono a favor da deliberação do Conselho de Graduação da USP. Da mesma forma, concordo com a decisão de não substituir o vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Aceitar o Enem como um substituto do nosso vestibular, na minha opinião, não é um procedimento correto. É importante levar em consideração que esse método ainda passa por um período de experiência e usá-lo para escolher os candidatos à Universidade de São Paulo é, no mínimo, precipitado.

Nem mesmo as Universidades federais fizeram essa opção. A USP é pioneira na realização de vestibulares rigorosos e bem feitos e, portanto, deve agir com prudência.

O Enade, por sua vez, surgiu como uma forma de avaliar novos cursos que surgiram com a expansão das instituições.

Porém acredito que esse objetivo não foi atingido. Isso fica claro ao se observar que cursos considerados ruins por ele, não foram fechados.

Além disso, no modelo do exame, a distinção entre desempenho insatisfatório por parte dos alunos e um boicote dos mesmos é complexa.

Quando se julga as propriedades de uma instituição, o Enade leva em conta majoritariamente infraestrutura e recursos pedagógicos. Dessa forma, outros dados importantes não são devidamente representados pelos indicadores.

Vale lembrar que o exame visa analisar também a qualidade das instituições e dos cursos e não só o desempenho dos alunos na prova.

As queixas dos estudantes sobre os próprios cursos, sobre os currículos, sobre os tipos de aulas – algumas vezes entediantes – e até sobre a lotação das salas não são consideradas em uma avaliação desse tipo.

Assim, esse mecanismo não é eficiente para avaliar a graduação da USP, uma vez que, não há plena segurança em seus resultados.

O interessante seria mobilizar a Universidade a fim de desenvolver um sistema próprio de avaliação. Um sistema que envolvesse a introdução de tecnologia, mudança de metodologia e julgasse, de fato, a qualidade do aluno que estamos formando.

Wanderley Messias é coordenador da Comunicação Social da Universidade de São Paulo.
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