Candidatos a reitor discutem democracia na USP e estatuto em debate

O Jornal do Campus promoveu um debate entre os candidatos a reitor da USP na última quinta-feira, dia 8, no auditório Mário Covas, na Escola Politécnica. Armando Corbani não pôde comparecer e Ruy Altafim teve que deixar o debate no meio, ambos em razão de outros compromissos. Para o evento foram chamados representantes do DCE, da Adusp e do Sintusp, órgãos de imprensa e convidados dos candidatos. O debate foi transmitido pela IPTV-USP e os telespectadores tiveram a chance de enviar perguntas por Twitter (@jornaldocampus) e e-mail.

Os reitoráveis Rodas, Miraglia, Messias, Sawaya, Altafim, Penin e Oliva durante debate promovido pelo JC (fotos: Yuri Gonzaga)
Os reitoráveis Rodas, Miraglia, Messias, Sawaya, Altafim, Penin e Oliva durante debate promovido pelo JC (fotos: Yuri Gonzaga)
Reforma do Estatuto e democratização

Após as greves de 2007 e 2009, a discussão da democracia na USP se tornou obrigatória para a eleição do novo reitor e inevitavelmente veio acompanhada de outra questão, a reforma do estatuto da Universidade.  Todos os candidatos que falaram sobre o assunto, Wanderley Messias, João Grandino Rodas, Glaucius Oliva e Francisco Miraglia, se disseram a favor de uma reforma estatutária que proporcionasse maior representatividade para todos os segmentos da universidade, masdiscordaram em relação à maneira como ela deve ser feita.

Miraglia defendeu uma assembleia autônoma, que tivesse participação de estudantes, professores e funcionários, e formada exclusivamente com o propósito de rever o estatuto. Segundo ele, “Perguntar a quem já exerce o poder como ele deve ser modificado não é uma boa alternativa. A USP é hoje da oligarquia que a controla há anos. Quem manda aqui é um coletivo de professores titulares que não dão a menor satisfação nem para a própria coletividade da Universidade.”

Os outros candidatos foram mais moderados. Wanderley Messias destacou que o estatuto tem vinte anos e precisa ser reformado, mas acredita que “a Universidade de São Paulo não está pronta para uma Assembleia estatuinte” e que “um reitor e um conselho universitário que queiram liderar esse processo de reformulação, trabalhando junto com todas as congregações, podem fazê-lo de modo a aumentar a representatividade do Conselho Universitário e modernizar a universidade como ela precisa”.

Já o professor Grandino Rodas citou como exemplo as universidades européias. “Há uma diferenciação entre como se pensava na década de 60, 70 e hoje. Havia um afã muito grande por uma paridade maior, por uma amplitude quase universal da representação. Hoje, vemos o contrário, cerca de 100 pessoas irão escolher o próximo reitor na Universidade de Coimbra. É como um pêndulo, não devemos ser nem como a Europa de 60 nem como é hoje”. Na mesma linha, o professor Glaucius afirmou que deve-se tomar cuidados com medidas populares que podem não ser academicamente justificáveis. “Temos que garantir que qualquer mudança na direção da Universidade aumente a qualidade academico-científica daquilo que fazemos.”

Inclusp e permanência estudantil

O Inclusp é um programa criado pela Universidade da São Paulo para aumentar o ingresso de alunos da rede pública em seus cursos. Através dele, os estudantes conseguem benefícios como a gratuidade da inscrição e acréscimos na nota do vestibular.

Sonia Penin defendeu no debate a continuidade dessas medidas de inclusão e ressaltou a importância de uma maior diversidade sócioeconômica na Universidade. Segundo ela, “Dependendo do curso, há um número muito grande de alunos com nível sócio econômico alto e queremos em todos os cursos a variedade que existe na população”. Além da concorrência e da dificuldade do processo seletivo em si, a professora apontou outra causa para o problema. “Muitos alunos nem se inscrevem [no vestibular]. Havia e há, um fenômeno de auto exclusão dos alunos de escola pública em relação ao vestibular da Universidade de São Paulo.”

Já Francisco Miraglia e Ruy Altafim enfatizaram a questão da permanência estudantil. Para eles, tão importante quanto garantir o acesso à Universidade, é dar condições para que o aluno possa freqüentar seus cursos. A observação que faz Glaucius de Oliva, porém, é a falta foco nas políticas de permanência. “O preço de custo das refeições nos restaurantes, por exemplo, é de mais de R$7 e é cobrado R$1,90 de todos os estudantes, desde os muito carentes até o que estacionam sua BMW. Assim, não se atinge toda a demanda necessária”.

Enade

Outro assunto discutido pelos reitoráveis foi o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, o Enade. Criado em 2004 para substituir o Provão, o exame não teve participação da USP por discordâncias em relação a sua metodologia. Neste ano, como noticiado pelo Jornal do Campus na primeira quinzena de setembro, a Comissão de Graduação da Universidade encaminhou um documento ao MEC com a descrição de seis alterações que deveriam ser feitas para que a USP aderisse ao exame. Entre os pontos principais estão a adoção de um exame universal e a valorização de universidades que possuem cursos inovadores. Algumas dentre as seis sugestões foram acatadas, mas não foi o suficiente para que a Comissão aprovasse a participação da Universidade.

Grandino Rodas é um dos que defendem a participação no exame. “O ensino precisa ser avaliado e a USP, por longo tempo, se esquivou das avaliações nacionais. É verdade que elas não são perfeitas, mas são o único modo de comparar nossa performances com as demais universidades”. Para o professor, contudo, só o Enade não é sufi ciente. “Precisamos começar um processo científico contínuo de avaliações até para influir positivamente de forma crítica nas avaliações nacionais.”

Univesp

A Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) é um assunto que não poderia deixar de ser mencionado no debate. O programa que diz respeito ao oferecimento de cursos de licenciatura não-presenciais ministrados pela internet foi avaliado pelo candidato João Grandino Rodas.

Ele acredita que “é possível que um ensino tipo Univesp, que ainda precisaria ser melhorado, possa ter o nível de pesquisa e extensão desejável numa graduação”. Além disso, o candidato vê no projeto os mesmo pressupostos da USP: contribuição com políticas sociais importantes.

Contudo, para Grandino Rodas, uma das decisões que a USP deveria tomar, caso aderisse ao projeto da Univesp, seria melhorar e “aumentar a semi presencialidade já existente em sua proposta”. A Univesp é um projeto que visa a formação de professores de ensino básico e médio através da política de ensino à distancia.

Terceirização e Segurança

A manutenção dos serviços prestados por empresas terceirizadas na Universidade de São Paulo foi mais um ponto abordado durante a discussão.

Para Francisco Miraglia, eles deveriam ser suspensos e, em alguns setores, até revertidos. Ele afirma que a terceirização não barateia custos – uma das razões pela qual os serviços são contratados – e representa uma super exploração do trabalhador.

Em resposta, Wanderley Messias apresentou exemplos da diferença entre os “bandejões” terceirizados e os restaurantes públicos: a USP paga R$ 7,60 por cada refeição no restaurante central (custeado pela Universidade) e apenas R$ 3,60 no “bandejão” (terceirizado) da USP Leste.

Mesmo assim, Miraglia manteve sua posição inicial e declarou que os custos poderiam ser ainda menores caso os serviços fornecidos fossem analisados com mais cuidado. “É perfeitamente possível a gente andar pela cidade de São Paulo e conseguir comida de boa qualidade com preços mais baratos que esses colocados ai”.

Quanto ao setor de segurança, composto por vigilantes terceirizados e agentes da Guarda Universitária (GU), o candidato substituiria todos os cargos dos terceirizados por uma quantidade maior e mais bem equipada de guardas. A decisão resultaria em um comprometimento maior dos trabalhadores com a USP, visto que eles seriam contratados diretamente pela Universidade e não passariam por uma empresa intermediária.

Para ele, a medida agregaria também uma melhora nos índices de segurança da USP. Contudo, outras medidas deveriam complementá-la. Miraglia sugere ainda a criação de programas de instrução e esclarecimento para os freqüentadores da USP. “Não é só a repressão que resolve, mas a prevenção é fundamental no encaminhamento dos problemas de segurança”.