Experiência do Pan pode evitar erros no futuro

População deve ficar atenta para que problemas de orçamento e planejamento não se repitam

Perspectiva e legado das competições em cinco bandeiras (arte: Lucas Tófoli Lopes/Priscila Jordão)A última edição Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro encerrou-se há mais de dois anos, mas ainda fomenta discussões, sobretudo porque seus organizadores são os mesmos da Olimpíada de 2016. Enquanto o Brasil já pensa nos próximos investimentos que serão destinados aos Jogos, o governo federal ainda tenta quitar dívidas remanescentes do evento de 2007, um total de R$ 48 milhões.

Os gastos são recorrentemente lembrados quando se fala no legado do Pan. A auditoria do Tribunal de Contas da União denunciou indícios de irregularidades no uso de verba pública para o evento.

Sustentados quase totalmente pelos cofres públicos, os Jogos custaram cerca de R$ 3,7 bilhões, valor oito vezes maior do que o previsto pelo Comitê Olímpico Brasileiro em 2002.

O motivo desse desequilíbrio é a falta de planejamento, segundo Flávia da Cunha Bastos, professora de Marketing e Eventos Esportivos da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE). “As metas não foram realistas em termos de captação de recursos privados, o que levou a um investimento da verba pública que extrapolou o planejamento original”, afirma.

Além disso, nem todas as melhorias urbanas prometidas antes do Pan foram concretizadas. O projeto do metrô até a Barra foi deixado de lado e várias instalações criadas em 2007, como o Parque Aquático Maria Lenk, foram pouco utilizadas para outras competições. Ainda assim, algumas delas serão recuperadas para sediarem modalidades da Olimpíada, segundo os organizadores.

Lições para 2016

Porém, Katia Rubio, professora da EEFE e membro da Academia Olímpica Brasileira, acredita que a experiência do Pan pode servir para evitar a repetição de alguns erros nos próximos eventos sediados no Brasil. “Mas é nossa obrigação, como cidadãos, participar a partir de agora do processo de organização dos eventos, reivindicando obras que tenham utilidade pós-jogos para a comunidade e fiscalizando gastos”, diz..

Antonio Carlos Simões, professor de Esporte e Sociologia da EEFE, também acredita que o Pan foi uma experiência importante. Contudo, questiona se o aprendizado foi realmente assimilado pelo brasileiro e se as pessoas entenderam que a falta de investimento público em estrutura é um problema crônico do nosso esporte. “De qualquer forma, a imprensa e a sociedade já começaram a fiscalizar e a cobrar mais transparência das autoridades, e isso precisa continuar”, conclui Simões.