Muda perfil do infrator que age na universidade

Limitação da autonomia de vigias e guardas universitários encoraja ações criminosas mais graves

As violentas ocorrências criminais e assaltos a mão armada ocorridos nos últimos meses têm colocado medo na Guarda Universitária e na vigilância terceirizada. Os dois tipos de vigilantes da cidade universitária não utilizam nenhum tipo de arma.

Eles sentem-se inseguros também com sua estabilidade empregatícia, pois todos os guardas e vigias entrevistados pela reportagem do JC preferiram não se identificar por temer represálias de seus superiores.

Sobre os assaltos, um guarda da GU conta que, antes, não era assim. Segundo ele, sempre existiu violência na USP, mas os crimes quase se restringiam a furtos e roubos. Conforme criminosos perceberam que a guarda não andava armada, tornaram- se mais ousados em suas ações. “Quando cheguei na USP há três anos, a guarda lidava com furtos, pequenos roubos, mas agora tem assalto a banco, invasão de unidades. Todos os bandidos estão armados. O perfil do criminoso na USP está mudando. E não creio que a Guarda Universitária seja mais capaz de cuidar desses problemas. Já virou uma questão de polícia”, diz.

Segundo um administrador de empresa terceirizada que atua no campus, os vigilantes também não são tão qualificados quanto o necessário. “A universidade tem que contratar segurança privada de maior qualidade”, afirma, em crítica à lei federal de licitações. De acordo com ela, vence a licitação a empresa que oferecer preços mais baixos – o que, para o administrador, é sinônimo de pior qualidade por contratar vigias com baixa remuneração e, consequentemente, com menor qualificação.

Infográfico: Como funciona a vigilância no campus

A função da vigilância

A limitação dos vigias na proteção das pessoas que circulam pelo campus não ocorre exatamente pela falta de armas. João Palhuca, diretor da empresa de vigilância terceirizada EVIK, explica que essas empresas, por exemplo, são contratadas para a vigilância do patrimônio da universidade, não dos transeuntes. “As pessoas gozam de proteção sintomaticamente”, diz, ao explicar que o vigia inibe a ação de bandidos.

Contudo, se o criminoso já estiver em ação, eles devem informar à Central da GU, que acionará a guarda mais próxima ao incidente – ou, dependendo do caso, a polícia. Não é sua função que ele interfira, apenas que informe.

A função da GU é similar. Segundo um guarda que preferiu não se identificar, seu papel é dar orientação aos estudantes. No mais, devem cuidar do patrimônio da universidade. As ações que os diferem dos vigias são: fiscalizar esses, fazer rondas e registrar ocorrências. “Não temos como contribuir mais do que isso para diminuir a violência na USP, pois nossa única arma é o walkie-talkie”, diz.

Direito à informação

O JC pretendia divulgar os dados oficiais dos crimes cometidos no campus nos últimos anos. Contudo, o coordenador geral do campus, Antonio Massola, não atendeu aos pedidos a ele dirigidos, bem como não autorizou os responsáveis pela guarda a concederem entrevista.

Esse procedimento fere o inciso XXXIII do Art. 5º. da Constituição brasileira, que assegura que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.”