Populismo provoca restrições à liberdade de imprensa

Segundo professor da USP, instituições pouco consolidadas e educação acrítica justificam situação na América Latina

Fechamento de emissoras, intimidações e agressões contra jornalistas, leis censoras. As recentes ofensivas de governos latinoamericanos para minar a liberdade de imprensa têm uma causa em comum. “Resquícios de estruturas arcaicas, especialmente patrimonialismo e populismo, permanecem incrustados no continente” e ferem as constituições republicanas. É o que diz Sedi Hirano, sociólogo e membro do PROLAM (Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina).

Segundo ele, a sociedade moderna nasce da separação entre público e privado, mas o patrimonialismo não respeita  estes limites. Apropria-se da máquina estatal e utiliza suas influências no poder judiciário para conter opiniões contrárias. É o que acontece no caso da censura ao jornal O Estado de S. Paulo, arquitetada pelos Sarney, e da intimidação sofrida pelo grupo argentino Clarín, sob o governo Kirchner.

Para a professora da FFLCH e do PROLAM, Amália Inês Geraige de Lemos, políticas neoliberais tomadas pelos governos latinoamericanos nos anos 90 foram determinantes para a censura hoje vigente. “O neoliberalismo gerou empobrecimento da população, que passou a pressionar governos populistas eleitos. Esses, por sua vez, se utilizam da censura para conter informações negativas sobre o governo”, argumenta.

Estratégia também utilizada por governos totalitários que, para o sociólogo , “se revestem de populismo, aparelham a máquina estatal e alteram a Constituição para permanecer no poder. Ser de esquerda, ou de direita, não é sinônimo de pensamento democrático”. Citando o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, o “homem cordial”, que age segundo sentimentos e emoções, é na verdade “violento porque não segue as normas constitucionais”, diz. A violência é empregada em nome da proteção do Estado, legitimado pelo voto, e pode surgir em qualquer país, mas encontra na América Latina, com suas instituições frágeis, condições favoráveis para ascender.

Entretanto, Hirano não distingue potenciais democráticos entre países: “atribuir ao Brasil tal exclusividade é ufanismo que encobre diversas mazelas. O potencial que o país tem é o de formar elites políticas, sociais, econômicas e culturais”. Transformar essa realidade envolve mudança estrutural e não apenas conjuntural. “Somente educação crítica, que efetivamente forme cidadãos, pode tornar as pessoas insensíveis aos discursos ultrapassados”, completa Hirano.

(ilustração: Naíma Saleh)