Problemas começam na capa

A primeira página é sempre muito importante. A mais lida em qualquer edição. Essa tendência se agrava na gratuidade. Todo pagamento incita ao menos uma vista d’olhos sobre outras páginas. Nesta edição, a manchete informa o medo dos vigilantes. A leitura do texto que segue não oferece continuidade à informação. Já a foto cumpre com dignidade seu papel. No que concerne a “legitimidade dos cursos pagos” não estou seguro que o referido conceito, rico em nuances de sentido, seja jornalisticamente adequado para uma simples chamada.

Os artigos assinados da pág. 2 são esclarecedores das opiniões de seus autores. Entretanto, a pergunta – “as fundações podem oferecer cursos pagos na Universidade” – que os estimula não me parece adequada. A discussão não gira em torno de um eventual direito ou prerrogativa de oferecimento dos cursos e sim da sua pertinência em termos de política universitária, dos fins últimos da universidade pública e dos meios aceitáveis para sua consecução.

Quanto à charge da pág. 2, o aluno da elite uspiana branca não consegue se dar conta das ameaças de uma figura menos branca à sua esquerda. Reproduz, assim, uma representação de mundo social que, ao menos na universidade, merece desconstrução.

Na pág. 3 não é propriamente o “campus que registra média de crimes”. Esta fórmula reificadora é comum na grande mídia mas não procede. Quem registra é sempre agente, autoridade, responsáveis pelo registro.

Nas págs. 4 e 5, a edição fotográfica é discutível. Os vasos da fábrica verde não contribuem semanticamente. O mais grave me parece a micro foto na coluna de notas divulgando o filme “Salve Geral”. Antes de tudo, nota não é lugar de foto. E esta, em especial, vem encavalada na nota seguinte, gerando mais dúvidas do que certezas.

Esta coluna não me dá espaço para discutir os limites da comparação proposta pelo JC para a censura na AL. A simples justaposição de situações politicamente incomparáveis é estratégia que pode configurar manipulação ideológica.

E, por fim, pode parecer singelo mas é gravíssimo para futura mão de obra especializada: o jornal aludido na matéria chama-se “O Estado de S.Paulo” e não “O Estado de São Paulo”, como consta logo na segunda linha. E por aqui fico.

Clóvis de Barros Filho é professor livre-docente de ética na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo. Fale com o ombudsman.